sábado, 16 de março de 2013

POLÍTICAS, PROGRAMAS E PESSOAS

Pacheco Pereira dá hoje uma entrevista interessante ao I. Entre outras matérias e no que respeita aos últimos tempos, Pacheco Pereira considera que PSD e CDS governam contra os respectivos programas.
Como é evidente, percebe-se o discurso de Pacheco Pereira mas a questão é mais dura. Como é reconhecido, os programas dos partidos são um enunciado que, nas mais das vezes,nem retórica de boa qualidade chega a ser. Contêm um conjunto de ideias e princípios que com demasiada frequência a ao chegar ao Governo são rapidamente esquecidos. Deve dizer-se, lamentavelmente, que muitos de nós e a própria imprensa não nos revelamos muito assertivos na reacção a essas quebras face aos programas, já as entendemos como algo de normal. Aliás, também será de considerar quantos eleitores votam em cada partido, sobetudo nos que chegam ao poder, com conhecimento claro do seu programa. Os estudos mostram que são poucos e evidenciam também a qualidade e saúde da nossa democracia.
Na verdade, os partidos do arco do poder, agora ocupado por PSD e CDS, governam nunca perdendo de vista os seus interesses enquanto partido e um conjunto de interesses de natureza económica a que podemos dar o nome de "mercados" que através das lideranças políticas numa economia globalizada estabelecem um conjunto de regras e determinações que informam boa parte das políticas. É por esta razão que as políticas de um governo raramente serão de acordo com o programa do ou dos partidos que o integra ou integram, ou seja, nenhum partido colocará no seu programa que as suas políticas não se dirigem a pessoas mas a mercados.
Ora é justamente esta a grande questão, as políticas actuais, apesar das exigências reconhecidas de contenção, redução de despesa e sacrifícios, são erradas na sua maioria, não favorecem a qualidade vida e o bem estar das pessoas porque não se destinam às pessoas, destinam-se a restaurar o bom funcionamento e a confiança dos mercados e, desse ponto de vista, não falham.
É exactamente por este conjunto de razões que face à avaliação da troika e do devastador cenário que temos pela frente, o Ministro das Finanças se mostra "desapontado" com o desemprego, o Primeiro-ministro entende que "previsões são previsões" e os burocratas da troika afirma que o "programa de ajustamento para Portugal está no bem caminho".
Claro que na sua perspectiva está no bom caminho. Lamentavelmente a generalidade das pessoas terá alguma dificuldade em perceber como é que a tragédia que vive pode ser um bom caminho.

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