terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

OS MEUS AMIGOS QUE ME AJUDAM

Na imprensa de hoje surge uma referência ao desenvolvimento de um Projecto Programa Young Health Programme – Like ME, em Portugal sob orientação da Professora Margarida Gaspar de Matos que, em termos sintéticos, promoverá um trabalho com adolescentes integrados no Programa Escolhas, a operar em contextos socioeducativos vulneráveis, visando a posterior colaboração desses adolescentes em trabalho com outros adolescentes da sua comunidade, sobretudo em dimensões ligadas à saúde mental.
Uma primeira nota para registar o trabalho muito importante que tem vindo a ser desenvolvido no âmbito do Programa Escolas em diversas comunidades e que tem proporcionado um excelente conjunto de boas práticas e intervenções positivas.
Embora a ideia de envolver os próprios sujeitos na intervenção e não os considerar “apenas” como destinatários da intervenção não seja inédita, é na verdade muito pouco operacionalizada entre nós.
Costumo dizer, em termos de educação escolar, que os alunos não têm que ser entendidos “só” como (recursos) sujeitos da aprendizagem, mas também como (recursos) sujeitos da ”ensinagem”.
A sustentação deste tipo de intervenção, quer em termos teóricos, quer em termos mais práticos aconselha a sua maior utilização, embora contrarie o modelo mais clássico da intervenção “especializada” e, portanto, apenas operada por especialistas. Daí, provavelmente, a sua menor utilização.
Em contextos e comunidades mais vulneráveis, mas não só, a existência de elementos dessa comunidade integrados em redes de mediação, apoio e acolhimento das dificuldades de outros elementos, pode constituir-se como uma ferramenta muito potente de intervenção e eficácia em muitos aspectos, pela proximidade, conhecimento e natureza das relações sociais existentes entre elementos da mesma comunidade.
Estes elementos podem cumprir um papel central, alguém com quem conversar, que escute, que tenha disponibilidade e não exerça "um cargo" mas sim uma função na vida dos outros adolescentes e crianças.
Muitas vezes tenho abordado no Atenta Inquietude como é excessivamente frequente a situação de miúdos que se sentem perdidos, na escola e na família, com dificuldade ou incapacidade, por razões de vária ordem, de dialogar com os adultos do seu contexto de vida, quer escolar, quer familiar. Como é previsível, a sua quase exclusiva companhia será a de outros adolescentes tão perdidos e abandonados quanto eles.
Neste contexto, a existência de figuras próximas, das suas relações e faixa etária, disponíveis, com quem é possível estabelecer relações de confiança e disponibilidade que amorteçam mal-estar e ameaças, e contribuam para pensar, repensar, orientar escolhas e trajectos, que ajudem a emergir competências e projectos, não podem deixar de assumir um papel importante na vida de muitos dos adolescentes, e não só, envolvidos nestes programas.
Parece ainda de sublinhar o facto deste tipo de programas, apesar de globalmente poderem ter uma tutela institucional, se desenvolverem numa situação de proximidade, sem o peso de uma instituição e, portanto, mais facilitadora de relações próximas, menos formais, de maior confiança.
Bom trabalho.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde Professor:

Sem tirar mérito ao projecto, parece-me que um programa de saúde mental sob a orientação da Professora Manuela Gaspar de Matos e com o patrocínio da AstraZeneca, cheira-me a miúdos e jovens medicados com Ritalina e coisas afins. Não sei porquê.

Abraço
António Caroço

Zé Morgado disse...

Talvez esteja a ser injusto, a Professora Margarida (não é Manuela)Gaspar de Matos não é seguramente uma "defensora" da ritalinização dos miúdos. Um abraço