quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O MAR, A AGRICULTURA E A INDÚSTRIA. Não foi esquecimento foi destruição

É certo que já não me devia acontecer, mas ainda consigo sentir alguma perplexidade com algumas intervenções de figuras públicas.
O Presidente da República afirmou hoje, ao que parece sem se rir, é um homem que talvez não saiba rir, que o país tem que "ultrapassar estigmas" e voltar a olhar para sectores que esqueceu nas últimas décadas, o mar, a agricultura e a indústria. É espantoso.
Não, nós não "esquecemos" o mar, a agricultura e a indústria. A nossa relação com estes sectores não foi de esquecimento foi de destruição. E foram destruídos, ou quase, sob a responsabilidade das políticas e modelos de desenvolvimento, de que Cavaco Silva foi um longo actor principal, entre outros, naturalmente. Estes sectores de actividade foram quase destruídos em nome de políticas que criteriosamente algumas décadas de centrão foram executando.
À boleia da destruição da agricultura, pesca e indústria, da betonização do país, de modelos de construção selvagem que destruíram cidades e litoral, de uma oferta turística massificada e frequentemente sem qualidade, hipotecámos o futuro.
É patético este exercício que muita gente que ocupou responsabilidades políticas relevantes e durante períodos de tempo significativos, procura fazer, colocando-se como espectadores distantes e críticos do que foram as decisões políticas de que foram altos responsáveis e, sobretudo, dos seus efeitos, por vezes devastadores.
O que é grave é que esta cegueira intelectual e a atitude infantil e ingénua traduzida "eu não estava lá", é frequente, não temos uma cultura de responsabilização das lideranças, quer nas atitudes e discursos individuais em que podemos assumir com humildade e seriedade o erro, a má decisão ou opção, quer em termos colectivos, em que a memória parece curta insistindo em modelos, ideias e pessoas que sendo parte do problema dificilmente podem ser parte da solução.

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