sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A GEOGRAFIA DOS EXCESSOS

O Público apresentou ontem um trabalho sobre a geografia da fome em que, sem surpresa, se evidenciava uma situação catastrófica em termos mundiais. Hoje, reafirmam-se números já conhecidos apontando para 18 % da população portuguesa em situação de pobreza. As instituições de apoio social referem um aumento significativo dos pedidos de ajuda, designadamente, alimentar. Apesar dos tímidos sinais de melhoria a nível global, a vida das pessoas continua em condições muito complicadas que não permitem a esperança na rapidez da mudança. A agenda das consciências assinala hoje o Dia mundial da Alimentação o que constitui, naturalmente, pretexto para sublinhar o drama da fome.
Curiosamente, a propósito do Dia da Alimentação ficamos a saber, através de um estudo realizado sob a égide da OMS, que 32% das crianças portuguesas estarão em excesso de peso, estando 13.9 % em situação de obesidade o que configura um sério problema de saúde pública.
Este quadro paradoxal e de excessos, a fome e a pobreza por um lado e o excesso alimentar, por outro, levanta uma questão que, do meu ponto de vista, nem sempre é suficientemente ponderada, a questão da pobreza não pode ser gerida e resolvida, ou minimizada, sem se considerar a questão da riqueza. A recente crise económica colocou a nu muitos dos excessos nascidos do interior dos modelos económicos que têm sido seguidos. Ouvem-se algumas referências e intenções, por exemplo da UE, de prevenir os excessos, provavelmente não passarão de intenções que logo que a poeira assente, ou seja, as economias recuperem, se esfumarão esquecidas.
Voltaremos com a habitual tranquilidade à geografia dos excessos, a coabitação da fome com os excessos e desperdício alimentares, das obscenas e delinquentes remunerações com a insuficiência de apoios sociais e com o desemprego, da mansão inacreditavelmente luxuosa com os sem abrigo, etc. Nada de estranho, portanto, o mundo é assim, diremos.

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