Há algumas semanas numa reunião com directores escolares o MECI apresentou um conjunto de medidas no âmbito de desenvolvimento do Plano +Aulas+Sucesso.
Entre as medidas apresentadas
inscreve-se o aumento do número de mediadores culturais passando para 310 em 25/26
que intervirão em 347 unidades orgânicas o que representa um aumento de 23 face
ao ano anterior e a intervenção em mais 28 unidades orgânicas. O número, definido de acordo com o número de
alunos migrantes inscritos em 23/24, continua a ser francamente insuficiente
face à realidade das escolas e agrupamentos e aos problemas de alunos de outras
nacionalidades em particular no que respeita ao domínio da língua. Parece claro
que a presença crescente de alunos estrangeiros nas escolas portuguesas coloca
enormes desafios e necessidades. De acordo com dados do MECI, número de estrangeiros no ensino não superior passou de cerca de 53 mil, 5,3%
em 18/19 para cerca de 140 mil em 23/24, 13.9% da população escolar. Lê-se ainda no DN que no ano passado o número de alunos
estrangeiros nas escolas aumentou 12%, mais 17 000.
No entanto e com alguma surpresa,
o MECI divulgou agora, a 15 dias do início do ano lectivo que , afinal, as
escolas não podem renovar os contractos e terão que abrir concurso o que,
obviamente, compromete a intervenção dos mediadores no início do ano lectivo.
Lamentavelmente, já não me surpreendo.
Apenas recordo a avó Leonor, vou tentar explicar.
Nos meus tempos de gaiato, a avó
Leonor, uma das mulheres mais extraordinárias que conheci, com a mais-valia de
ser minha, a minha avó, quando nós caíamos em alguma asneira e tentávamos as
esfarrapadas desculpas que a imaginação, ou a falta dela, ditavam ou ainda,
quando as pequenas ou grandes mentiras não saíam bem, tentava compor um ar
severo, desmentido por uns olhos claros infinitamente doces, e dizia, “não
sejam troca-tintas”.
Não me lembro se alguma vez lhe
perguntei se sabia a origem da expressão, mas nestes tempos que vamos vivendo
lembrei-me da avó Leonor e dos troca-tintas.
É grande a preocupação, o cansaço
e o desânimo que o contexto social e político dos dias que correm provocam. O
acompanhamento regular dos discursos e comportamentos de boa parte das
lideranças políticas, sociais ou económicas são elucidativos do “troca-tintismo”
que os informa, vale tudo sem limites éticos ou o respeito mínimo pela verdade.
Insultam-nos com a desconsideração com que somos percebidos. Haverá certamente
excepções, mas são isso mesmo, excepções.
É neste “troca-tintismo” que se
sustenta e promove a eclosão do ovo da servente, dos ovos da serpente.
Vão feios os tempos.
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