quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

AS PALAVRAS

 Estamos num tempo em que os discursos se atropelam, toda a gente tem algo a dizer e cansam tantas palavras.

E cansam não porque me pareçam palavras a mais, mas porque existe comunicação de menos, ou seja, o que a vida pública mais tem para nos mostrar é discursos sem interlocutor. Cada um dos actores ou protagonistas fala para algo ou alguém de indefinido e parece pouco disponível para o essencial, utilizar as palavras como suporte da comunicação e dos entendimentos, não estou a dizer concordâncias. As pessoas estão cansadas de retóricas palavrosas, inconsequentes e centradas nos interesses dos aparelhos partidários ou das elites económicas. Como dizia, parece-me que, de facto, temos palavras a mais e comunicação a menos.

Por outro lado, paradoxalmente, também creio que faltam palavras. Faltam palavras de solidariedade genuína para quem, vítima da crise que a especulação económica e modelos de desenvolvimento não centrados nas pessoas, vive momentos de enormes dificuldades num atentado diário à dignidade e com o quotidiano transformado na preocupação com a sobrevivência e a falta de uma palavra de esperança.

Como canta Paco Ibañez.

Las palabras entonces no sirven, son palabras...

Siento esta noche heridas de muerte las palabras

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