terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

O meu Alentejo

Sim é verdade. Eu tenho um Alentejo. Privilégio de citadino endinheirado dirão vocês. Também é verdade, nascido no subúrbio, morador no subúrbio e com o dinheiro que chegou para comprar um bocadinho do Alentejo. Daí o privilégio. Mas talvez não saibam que a sorte é de quem ama a terra e aquela terra, o Alentejo, o meu Alentejo, não se suporta, odeia-se ou ama-se. E como eu gosto daquela terra, o meu Alentejo. Às vezes os meus amigos dizem que tenho sotaque. Acho que estão a mangar comigo. É verdade que gosto de estar nas lérias e nos petiscos que a União Europeia ainda nos permite (não digam a ninguém) com o Sr. Zé Marrafa, com Chouriço, o João, o Grilo, etc. Ainda este fim de semana e a propósito destes dias cabaneiros o Sr. Zé contava como é que tendo começado a trabalhar aos nove anos como porqueiro, secava a roupa (a única que tinha) ao lume antes de dormir mas só depois dos mais velhos lhe darem lugar. Também é muito duro o Alentejo. O meu já não é. Daí e mais uma vez, o privilégio.
O meu Alentejo tem muita coisa. Imaginem que tem uma nascente (água que corre de pé como dizem os de lá, como eu, os alentejanos), uma lareira grande, uma casa grande com paredes grossas que suportam o calor bravo do verão, umas noites que, agora, são grandes e, por vezes, escuras como só a noite, e tem uns catacuzes e cardetas que dão uma sopa que não se esquece, e tem espargos que custam a apanhar mas ... só provando, e tem uma horta de onde comemos tudo o que ainda sabe ao que se chama, e tem umas laranjas e tangerinas que apesar de nem sempre terem o calibre imposto pela UE tem um gosto a ... gosto, e tem pássaros, muitos, com quem montei uma sociedade, eu cuido das árvores e eles comem a fruta, as amoras, as ginjas, os pêssegos, etc. (não me parece justo mas eles é que lá estão), e na terra onde é o meu Alentejo faz-se um azeite que só com o cheiro tempera, e tem hortelã da ribeira, e tem poejos, e tem uma família residente de gatos (as Titas) que a troco de uns petiscos ao fim de semana afugentam os ratos e tem uma luz ao fim do dia parecida com nenhuma outra, e tem muito mais mas que se não diz, sente-se. E tem ainda as pessoas que me, nos, visitam e que também gostam do que a gente gosta, o meu Alentejo.
É, vocês têm razão, tenho o meu Alentejo. Sou um privilegiado.

1 comentário:

Bárbara disse...

O Alentejo...n tenho um, tenho um bocadinho daqui e dali daquele que é de todos e que tem sempre algo de especial. As típicas aldeias de gentes em que a amabilidade é mais do que simples cortesia, é genuína, vem das raízes..as paisagens sem fim que cativam e envolvem desde o primeiro olhar..não consigo ficar indiferente ao sol do Alentejo, á lua do Alentejo, á brisa do Alentejo que tem um som que embala. Não conheço muito do Alentejo, não foi á muito tempo que o comecei a descobrir, mas numa das viagens até lá, houve um momento em que me vi rodeada de campos de girassóis por todo o lado, o por do sol de cor quente reflectido no mais pequeno pormenor...nesse breve instante, silencio, e uma emoção cá dentro que me deixou de lágrima ao canto do olho...sorri e pensei..apaixonei-me por este Alentejo.


Nota: Não posso deixar de dar os parabéns pela selecção fotografica do blogue :)