Para que conste, o Carnaval nunca me entusiasmou. É certo que na minha adolescência constituía um excelente pretexto para os "assaltos" realizados nas garagens dos amigos, oportunidade quase única para muitos de nós namorarmos sem vigilância e com banda sonora (muitos slows, lembram-se?). Mas mesmo nessa altura, sublinho, o Carnaval não passava de um pretexto.
Hoje nem isso. As televisões esforçam-se por nos mostrar os patéticos desfiles de "escolas de samba" genuinamente portuguesas com umas sambistas resfriadas entre o frio do Fevereiro português e o biquini do verão brasileiro, as tristes figuras mascaradas que nos querem fazer acreditar no divertimento que mostram, a dificuldade sempre presente de separar o Carnaval na Política... da Política no Carnaval, a alegria triste de quem se desloca para assistir ao vivo a tudo isto e... amanhã volta à tristeza alegre do "ao menos que não nos falte saúde" e também as crianças senhores, que desfilam e saltam de contentes. Estas em dose dupla, pois já na 6ª feira anterior as senhoras professoras e educadoras as tinham levado, com máscaras e disfarces sempre originais, a desfilar pelas ruas da sua vida acompanhadas, claro, pelo fotógrafo que tira as fotografias que aparecerão no Boletim Municipal sob o título "A Câmara Municipal como sempre no apoio às iniciativas das escolas".
Também é habitual (até quando) que, para dar um certo ar de exotismo e preocupação etnográfica, apareça uma qualquer das nossas aldeias onde meia dúzia de resistentes parecem brincar com qualquer coisa a que certamente por vergonha nem chamam Carnaval, dizem Entrudo.
Acabo por ficar triste com o Carnaval. E sinto-me mais triste porque este Carnaval espelha, de facto, a nossa tristeza embora gostemos de nos considerar um povo alegre.
Felizmente acabou. Amanhã começamos a pensar na Páscoa.
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