No âmbito da realização em Lisboa de um encontro internacional Book 2,0, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) divulgou os dados de um estudo sobre livros e hábitos de leitura. Alguns indicadores.
Registou-se em 20233 um aumento
de 7% de vendas face a 2022. A percentagem de inquiridos que compra livros
subiu ligeiramente, de 62% para 65%. De registar que a faixa etária dos 25 aos
34 tornou-se a que mais compra livros, 76%, e os leitores dos 15 aos 24 os que
mais aumentaram a compra de livros face a 2022,41% do total de inquiridos.
Apesar de alguns dos dados do
inquérito terem revelado alguma mudança no aumento do consumo e hábitos de
leitura muito ainda temos de caminhar.
Como já aqui tenho escrito, os
livros e a leitura são bens de primeira necessidade para gente de todas as
idades donde a insistência. Recordo sempre Marguerite Yourcenar que em “As
Memórias de Adriano” escrevia “A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz
humana.”
São múltiplos os estudos e
referências que sublinham o impacto dos livros e da leitura no desenvolvimento
e nas competências escolares bem como no trajecto pessoal. Lamentavelmente, são
também muitos os trabalhos que mostram que os hábitos de leitura são pouco
consistentes entre as crianças, adolescentes e jovens como, sem surpresa,
também o são entre a população em geral. Nos últimos tempos parece estar a
despertar um maior interesse pelos livros, sobretudo entre os mais novos,
associado a um fenómeno das redes sociais, os booktokers que lêem e divulgam
livros no TikToK. Esperemos que se mantenha e fortaleça.
Os livros têm uma concorrência
fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que
nem sempre é fácil levar as crianças, jovens ou adultos a outras opções,
designadamente aos livros.
Apesar de tudo isto também
sabemos que é possível fazer diferente, mesmo que pouco e com mudanças lentas e
os dados agora conhecidos parecem indiciar alguma evolução.
Só se aprende a ler lendo e o
essencial é criar leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros
por exemplo, em que espaços, biblioteca, casa ou escola e em que suportes,
papel ou digital.
Um leitor constrói-se desde o início do processo educativo. Desde logo assume especial importância o ambiente de literacia familiar e o envolvimento das famílias neste tipo de situações, através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam ser estimuladas, muitas vezes são, e para as quais poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Apesar dos esforços de muitos
docentes, a relação de muitas crianças, adolescentes e jovens com os materiais
de leitura e escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais
ou na realização de trabalhos através da milagrosa “net” proliferando o
apressado “copy, paste” ou resumos disponíveis das obras que são de leitura
obrigatória ou recomendada.
Neste contexto, embora desejasse
muito estar enganado, não é fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que
procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o
"tablet" também para ler e não apenas para uma outra qualquer
actividade da oferta sem fim que está disponível. A iniciativa dos booktokers
que referi acima pode ser um bom sinal.
Felizmente e apesar das
dificuldades também importa sublinhar que se realizam com regularidade
experiências muito interessantes em contextos escolares, os professores
bibliotecários têm desenvolvido um trabalho essencial, ou em iniciativas mais
alargadas a outras entidades como autarquias e instituições culturais.
Precisamos de criar leitores,
eles irão à procura dos livros ou da leitura, mesmo quando os tempos parecem menos
favoráveis.
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