A partir de hoje todos os alunos deveriam estar com aulas. Lamentavelmente, muitos não terão professores que leccionem todas as disciplinas. É incómodo continuar a ouvir gente com responsabilidades neste cenário enjeitá-las sem um sobressalto. Como diria a minha Avó Leonor, é gente sem espinha.
Bom, falemos então do que deveria
ser normal, o regresso às aulas e o iniciar ou retomar de rotinas. Algumas notas
a propósito de rotinas e comportamentos que muitas vezes abordei no trabalho
com pais e professores.
Como muitas vezes aqui tenho
referido preocupa-me que em muitos contextos familiares as crianças cresçam com
alguma dificuldade de regulação e, sobretudo, auto-regulação dos seus
comportamentos. Esta situação traduz-se na forma como se comportam nos diferentes
espaços nos quais passam os dias, sobretudo em casa e na escola.
Como também já tenho partilhado,
em muitos diálogos com pais transparece alguma dificuldade, por várias razões,
na definição de regras e limites que com bom senso e flexibilidade são
imprescindíveis como organizadores do comportamento dos miúdos.
Para além disso, de há uns tempos
para cá começou a registar-se em muitos pais um discurso crítico das rotinas
que, naturalmente, é decorrente da forma como olham para a sua vida e das suas
crenças e representações. Começaram a ouvir-se afirmações no sentido de
combater a instalação de rotinas por oposição à importância da criatividade, da
inovação, da não repetição sistemática de comportamentos ou procedimentos, etc.
A questão é que, do meu ponto de
vista este entendimento, assenta no enorme equívoco de entender que dimensões
que estes pais e, creio, a maioria de nós, considera importantes como
criatividade e inovação, por exemplo, seriam incompatíveis com a instalação de
rotinas, elas próprias também essenciais ao desenvolvimento e funcionamento das
crianças devido, fundamentalmente, à sua função reguladora e organizativa. O
resultado em muitas circunstâncias e contextos educativos, familiares ou mais
formais era, é, um funcionamento desregulado, desorganizado e sem regras.
Entre os adultos o equívoco está ainda presente de forma mais nítida. Ouve-se com alguma frequência a afirmação de se ser contra as rotinas como forma de emancipação intelectual e social pelo que, “detestam rotinas”.
Para todos e em particular para os mais novos, as rotinas
cumprem funções fundamentais na nossa organização e funcionamento. A sua
existência organiza-nos e, curiosamente, até acontece com frequência que é sua
existência que nos permite “libertar” disponibilidade para outras direcções.
Como é óbvio, nada desta conversa contraria a importância que na nossa vida tem
o lado do imprevisto, da mudança, da criatividade ou da quebra das rotinas.
Também não tem a ver com a defesa de um funcionamento obsessivamente
estruturado, que corre o sério risco de se desorganizar quando algum pormenor
de rotina se altera.
Mas é preciso insistir, as
crianças precisam de ter o seu dia a dia com rotinas estabilizadas e
reguladoras como, sono, refeições, banho, comunicação/relação com os pais,
tarefas de natureza escolar ou outras, etc.
São um bem de primeira
necessidade.
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