Nos tempos que correm não é fácil encontrar boas notícias no mundo da educação, aliás, no mundo.
No JN li que, contrariamente previsto
na carta educativa do concelho, já não encerrarão três estabelecimentos de ensino do 1º ciclo na área de Leiria. O aumento da população em idade escolar nesta
zona geográfica assim o determinou.
Tal como me entristeceu e
questionei o movimento de encerramento de escolas iniciado há uns anos, também
me alegro com esta reabertura. Não será significativa para o país, mas é
essencial para a comunidade.
Retomo umas notas sobre esta
questão do encerramento de escolas que também está associado à criação de
mega-agrupamentos que, muitos deles, se transformam em mega-problemas, mas esta
é uma outra matéria.
Muitas das questões que se
colocam em educação, como noutras áreas, independentemente da reflexão actual,
solicitam algum enquadramento que nos ajudem a melhor entender o quadro temos
no momento.
Como já tenho escrito a este
propósito, durante décadas de Estado Novo, tivemos um país ruralizado e
subdesenvolvido. Em termos educativos e com a escolaridade obrigatória a ideia
foi “levar uma escola onde houvesse uma criança”. Tal entendimento minimizava a
mobilidade e a abertura de espírito algo a evitar. No entanto, como é sabido,
os movimentos migratórios e emigratórios explodiram e o interior entrou em
processo de desertificação o que, em conjunto com a decisão de política
educativa referida acima, criou um universo de milhares de escolas, sobretudo
no 1º ciclo, com pouquíssimos alunos. Como se torna evidente e nem discutindo
os custos de funcionamento e manutenção de um sistema que admite escolas com 2,
3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e
papel social e formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos
revelam isso mesmo.
Parece, pois, ajustada a decisão
de em muitas comunidades proceder a uma reorganização da rede.
É também verdade que muitas vezes
se afirma que a “morte da escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que
será, pelo menos de considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e
social promovem a litoralização e desertificação do interior. Apostas políticas
erradas não contrariam este processo, antes pelo contrário, promovem-no
fechando os equipamentos sociais, incluindo as escolas, uma das formas
evidentes de fixação das pessoas. Cria-se assim um ciclo sem fim, as pessoas
partem, fecham-se equipamentos, as pessoas não voltam ou continuam a partir. E
este processo de definhamento vai-se alastrando. Talvez a manutenção das
escolas em funcionamento ajude a fixar e atrair famílias.
Torna-se fundamental e urgente a
coragem e a visão para outros caminhos.
Por outro lado, como referia
acima, a concentração excessiva de alunos em centros educativos ou
mega-agrupamentos não ocorre sem riscos, tornam-se mega-problemas. Para além de
aspectos como distância a percorrer, tipo de percurso e apoio logístico, importa
não esquecer que escolas demasiado grandes são mais permeáveis a insucesso
escolar e exclusão, absentismo, problemas de indisciplina e outros problemas de
natureza comportamental como bullying.
Neste cenário, a decisão de
encerrar escolas não deve ser vista exclusivamente do ponto de vista
administrativo e económico, não pode assentar em critérios generalizados
esquecendo particularidades contextuais e, sobretudo, não servir como tudo
parece servir em educação, para o jogo político.
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