É impossível não ficar impressionado com o grave episódio ocorrido numa escola básica da Azambuja. Um aluno com 12 anos feriu de forma aleatória seis colegas, sendo que três ainda estão hospitalizados.
É ainda causa de grande
perplexidade a ocorrência de uma situação desta natureza desencadeada por
alguém com 12 anos que, aparentemente, não demonstrava sinais que indiciassem o
risco de o realizar.
Dito isto, também sabemos que nos
tempos que correm o clima social, relacional e emocional nas comunidades de que
fazemos parte nem sempre é muito amigável e cria caldos de cultura relacional
em que o clima nas comunidades é ele próprio menos favorável ao bem-estar.
Apesar de em Portugal estes casos
de violência extrema serem menos frequentes e de menor gravidade que noutros
países, levam-nos a questionar os nossos valores, modelos educativos, códigos e
leis pela perplexidade que nos causam.
Esta perplexidade exige a necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas, mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por
duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva,
possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e
agressividade. Uma outra via em que aumenta exponencialmente o risco de um pico
que pode ser um ataque numa escola ou noutro espaço público ou uma investida
contra alguém arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de
"adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um
"mal-estar" que destrói valores e gente.
É evidente que a detenção constitui
um importante sinal de combate à sensação de impunidade perigosamente presente
na nossa comunidade, mas é minha forte convicção de que só punir e prender não
basta assim, como apenas a mudança do quadro legal de acesso a armas não faria,
só por si, com que não acontecessem episódios desta dimensão trágica.
Sabendo que prevenção e programas
comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa
prevenir e os custos posteriores da violência, de delinquência continuada ou de insegurança.
Importa ainda estratégias mais
proactivas e eficientes de minimizar, a exclusão, o abandono e insucesso
educativos, o “mal-estar” psicológico e problemáticas de saúde mental, a
guetização e "quase total" e, muitas vezes, a desocupação de quem não
estuda, nem trabalha. Para esta gente, o futuro passa por onde, por quem e
porquê?
Finalmente, a importância de uma
precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar,
tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho
que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Sem comentários:
Enviar um comentário