quarta-feira, 17 de outubro de 2012

MIÚDOS COM FOME NÃO APRENDEM E VÃO CONTINUAR POBRES

Alguns professores e pais têm vindo a alertar desde o início do ano para o aumento das dificuldades das famílias e do aumento do número de famílias que não conseguem assegurar condições mínimas de qualidade de vida aos seus miúdos. Professores e directores escolares registam a subida de pedidos de ajuda e da apresentação de situações de carência, sendo particularmente preocupante a situação de carência alimentar.
Tem sido recorrentemente noticiada a impotência e dificuldade de muitas instituições de solidariedade social em responder ao aumento brutal de pedidos de ajuda das famílias.
Face a este cenário o que temos pela frente é a insistência insensível num caminho de cortes nas áreas sociais e da educação, no corte insensato e insustentável no rendimento das famílias produzindo diariamente novos pobres que já nem envergonhados se conseguem sentir, tamanha é a desesperança que faz aparecer na escola ou nas instituições de mão estendida.
Face a este drama dizem-nos não haver alternativa. É mentira porque existem alternativas e é crime porque se condena miúdos a passar a carências graves.
Já foi decidido que este ano lectivo as escolas distribuirão pequenos almoços às crianças identificadas como situações vulneráveis, sinalizadas, como se costuma chamar entre nós. A medida pecou por tardia, muitas crianças têm como alimentação não muito mais do que aquilo que as escolas lhes providenciam, como bem sabem as pessoas que se movem no universo da educação.
As dificuldades das famílias e o que dessas dificuldades penaliza e ameaça os mais pequenos, é demasiado importante para que não insistamos nestas questões. Todos os estudos e indicadores identificam os mais novos como o grupo mais vulnerável ao risco de pobreza que, aliás, tem vindo a aumentar. Existem concelhos em que a percentagem de crianças carenciadas ultrapassam os 50% e sabe-se do impacto negativo dos cortes dos cortes na Acção Social Escolar e no orçamento das autarquias.
As dificuldades que afectam directamente a população mais nova são algo de assustador. Esta realidade não pode deixar de colocar um fortíssimo risco no que respeita ao desenvolvimento e sucesso educativo destes miúdos e adolescentes e portanto, à construção de projectos de vida bem sucedidos. Como é óbvio, em situações limite como a carência alimentar, estaremos certamente em presença de outras dimensões de vulnerabilidade que concorrerão para futuros preocupantes.
É por questões desta natureza que a contenção das despesas do estado, imprescindível, como sabemos, deveria ser feita com critérios de natureza sectorial e não de uma forma cega e apressada, custe o que custar, naturalmente mais fácil mas que, entre outras consequências, poderá empurrar milhares de crianças para situações de fragilidade e risco com implicações muito sérias.
Miúdos com fome não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias, insucesso e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.

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