sexta-feira, 9 de março de 2012

OS INTERESSES DE OCASIÃO

O Presidente da República no livro Roteiros VI, ao que parece comemorativo(!) do seu primeiro mandato, desencadeia um profundo ataque a José Sócrates que acusa de lhe esconder a situação do país, de deslealdade política, usando uma linguagem particularmente dura e pouco habitual em livros sobre acontecimentos tão recentes.
Cavaco Silva está a atravessar do ponto de vista político o que será provavelmente a pior fase da sua carreira. Passou por uma série de episódios nebulosos e mal explicados, escutas em Belém, património imobiliário, acções e relações com o BPN, etc., culminando com declaração sobre as pensões que motivou uma inédita petição dirigida ao Parlamento solicitando a demissão do Presidente.
Acontece que Cavaco Silva desde sempre tem procurado assumir com uma soberba indisfarçável uma superioridade moral e estatuto ético exemplares que, evidentemente, lhe não assenta, de todo.
Neste quadro, o lançamento do livro com este discurso, no meio de uma profunda crise económica e social, não passa de mais um exemplo de definição de um "inimigo diabolizado” que branqueia falta de qualidade própria. Estas notas não pressupõem o esquecimento das responsabilidades de José Sócrates, mas não é essa a questão em cima da mesa.
O Presidente da República, cuja mediocridade política é pouco referida devido a uma reverencial aceitação da falsa imagem de homem íntegro, austero, infalível e acima dos famosos interesses de ocasião mostra, de novo, como lhes é sensível.
O insuspeito Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD, tem razão, Cavaco Silva quando está calado … acerta.

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