sábado, 24 de março de 2012

A REALIDADE NÃO É A PROJECÇÃO DOS SEUS DESEJOS

A liturgia dos partidos estabelece a existência de Congressos que, quase sempre, são destinados à definição da distribuição dos lugares nacionais, a legitimação ou eleição de lideranças e, finalmente, como disse um insuspeito António Capucho são basicamente “uma sucessão de monólogos” e definição de territórios de influência.
Não estando particularmente atento aos trabalhos do Congresso do PSD, ainda assim, a imprensa fez-me conhecer duas afirmações de Passos Coelho que suscitam algumas notas, “a coisa está a correr bem”, “estamos a fazer uma revolução tranquila”.
Eu percebo que o Primeiro-ministro estando obcecado com o défice e com o negócio realizado com troika a que se chama programa de ajuda, entenda que a política de cortes nos rendimentos das famílias e o aumento de custos na generalidade das áreas, esteja a correr bem e que tenhamos em andamento uma revolução tranquila.
Talvez possa recordar a Passos Coelho que temos cerca de 2,7 milhões de portugueses em risco de pobreza, a União Europeia reconhece que as medidas de austeridade que têm vindo a ser promovidas conduzem a um aumento da disparidade entre os mais ricos e os mais pobres, temos 19% de desempregados, sendo que sobe para 35 % entre os mais jovens.
Sabemos que os cortes nos recursos afectados aos apoios sociais os tornam manifestamente insuficientes para minimizar de forma significativa as dificuldades de muitas pessoas o que faz aumentar exponencialmente os pedidos de ajuda junto das instituições de solidariedade social que, por sua vez, também não têm recursos para responder.
Os problemas na área da saúde são muitíssimos graves com acréscimo de custos, cortes nos meios disponíveis, constrangimentos graves na acessibilidade aos serviços, consultas e medicamentos por parte de uma população, boa parte dela envelhecida e sem recursos económicos suficientes.
Neste cenário, não exaustivo dos problemas e dificuldades que nos afectam, afirmar que a coisa está correr bem e tranquilamente só mesmo num assomo da síndrome que afecta boa parte da classe política, entendem que a realidade é a projecção dos seus desejos, ou seja, “a realidade está enganada, eu é que estou certo”.
Já não estranhamos.

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