quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

INSENSIBILIDADE, PERDÃO, EQUIDADE SOCIAL

As declarações de Manuela Ferreira Leite sobre o pagamento de dos tratamentos de hemodiálise por parte das pessoas com mais de 70 anos, de facto também me embaraçam mas não tanto pelas mesmas razões que vi aduzidas.
A questão da sustentabilidade do SNS coloca, entendo, a questão da eventual necessidade de alguma diferenciação nos custos de acesso aos cuidados de saúde embora se conheça a argumentação de que a diferenciação já está garantida no pagamento de impostos, aspecto que, como todos sabemos, não é tão linear em Portugal. Nesta perspectiva, pode eventualmente aceitar-se que alguém, independentemente da idade, possa suportar custos diferenciados, sabemos a existência de muitas pensões e reformas de altíssimo valor e mesmo situações de acumulação obscena.
O que me embaraça nas declarações de Manuela Ferreira Leite é o tom de insensibilidade que transparece, tal como em muitos discursos de gente com responsabilidade política e que me parecem quase insultuosos face à natureza das dificuldades muito sérias que uma parte significativa dos portugueses atravessa. Ainda ontem, tivemos o exemplo da deplorável intervenção de Eduardo Catroga ao comentar o salário que auferirá na EDP, referindo-se a valor de mercado, ao exemplo do futebol, etc. É exactamente aqui que, do meu ponto de vista, se coloca a questão, não pode ser o mercado, desregulado, amoral, não ético, a condicionar definitivamente decisões e discursos.
Este tipo de afirmações chancela a pobreza, a exclusão dos que não têm “valor de mercado”, mas que têm de pagar, diz a Dra. Ferreira Leite.
Apesar de toda gente subscrever a retórica da equidade, quando se sabe que as políticas de austeridade em Portugal estão a aumentar as assimetrias sociais (segundo a própria UE), não é aceitável que estas figuras assumam uma chocante e ofensiva posição de insensibilidade.

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