terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ESTE PAÍS TEM QUE SER PARA VELHOS

A intenção de introduzir "moderação" nas exigências e requisitos aplicados aos equipamentos sociais parecem chegar agora aos lares de idosos eliminando a exigência de que os quartos sejam apenas individuais ou duplos, aceitando o quarto triplo, esperando nós que se fique por aqui evitando o recurso à tipologia camarata. Para quem lida com as respostas sociais em várias áreas, é claro que algumas exigências e requisitos eram claramente desajustadas e não contribuem para a qualidade do serviço prestado mas para o custo desse serviço. Os responsáveis pelas Instituições de Solidariedade Social aplaudem a medida que poderá aumentar a capacidade de resposta das instituições, sendo que em muitas as listas de espera são significativas, podendo, assim, contribuir para combater a oferta clandestina.
Há poucas semanas o Público apresentou um extenso trabalho sobre um dos mais rentáveis nichos de mercado da economia paralela, os lares ilegais para idosos. Segundo dados da ALI - Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso de Idosos, existem 1863 lares licenciados, cerca de 1000 em situação ilegal alimentando um mercado que valerá perto dos 40 milhões de euros. É ainda de considerar que teremos perto de um milhão de portugueses acima dos 75 anos e dado o envelhecimento progressivo, o futuro deste mercado parece assegurado. Aliás, na peça também se referia a existência de listas de espera significativas.
É pois essencial que a fiscalização e regulação funcionem, assegurando dentro dos padrões razoáveis a qualidade destas instituições.
Este universo, o acolhimento, institucional ou familiar dos velhos é uma questão complexa, como complexa e muitas vezes difícil é viver com a condição de velho. Não é fácil ser velho.
Começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio, sem médico de família.
Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades e estilos de vida, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução produzindo cada vez mais situações de solidão e isolamento entre os velhos, com consequências que têm feito manchetes, muitos velhos morrem de sozinhismo, de solidão. Estão em extinção as relações de vizinhança e a vivência comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
É certo que existe, felizmente, um pequeno número de idosos que além do apoio familiar, ainda possuem meios que lhes permitem aceder a bens e equipamentos que contribuem para uma desejável e merecida qualidade de vida no fim da sua estrada.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.

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