terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A MINHA FAMÍLIA

Numa das primeiras aulas, a professora de Língua Portuguesa, nova naquela escola, pediu aos alunos para que escrevessem um pequeno texto sobre a família. Assim, disse a professora, ficava a conhecê-los um pouco melhor.
Uns dias depois, com os textos já corrigidos devolveu-os alunos pedindo ao Rodrigo, um aluno também ele novo naquele grupo, que lesse o dele porque o achou bonito.
O Rodrigo ficou um bocado embaraçado e numa voz algo hesitante leu o pequeno texto que tinha escrito, "Eu moro numa casa que não é muito grande, nem é muito pequena, com os meus pais e com os meus irmãos. Os meus pais trabalham mas não chegam muito tarde. Eu e os meus irmãos brincamos depois de chegar a casa e quando vem o meu pai a gente joga à bola com ele no parque em frente da nossa casa. Depois de jantar, a minha mãe conta sempre histórias que fazem a gente rir-se muito. Aos fins de semana vamos passear e às vezes vamos ver o meu avô à casa dele. É um bocado chato porque ele conta sempre as mesmas coisas mas gosto dele.
Mas gosto mais dos meus pais. Também gosto dos meus irmãos, mas às vezes zango-me com o Luís porque ele goza com o sinal que tenho na cara.
O meu pai é muito bom a dar toques coma a bola, ele jogou futebol a sério. Eu também gostava de jogar como ele.
É assim a minha família".
E o Rodrigo respirou fundo sentando-se calado no seu lugar.
Nem a professora nem os colegas sabiam, ainda, que o Rodrigo vivia numa instituição para miúdos sem família.
Aquela não era a sua família. Era a família que o Rodrigo gostava de ter.

6 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito da pequena história do pequeno Rodrigo. Fez-me lembrar um dos filmes da minha vida, O labirinto de fauno. AS crianças tem uma necessidade tão grande de serem amadas e uma capacidade tão grande de resistir às adversidades que até das situações mais crueis conseguem extrair formas de carinho. Pena é que muitas vezes só na fantasia se possam sentir amadas e seguras.
MLurdes

Zé Morgado disse...

No fim resta o sonho

Anónimo disse...

Pois. É pouco, mas melhor do que nada. o meu medo é que até as crianças deixem de sonhar.
MLurdes

Anónimo disse...

Morgado:
Manda-nos mais histórias.
Fátima e David.

Zé Morgado disse...

Irão aparecendo

Anónimo disse...

Linda história!
É verdadeira?
Eu admiro sinceramente as pessoas que sonham acordadas!