segunda-feira, 18 de outubro de 2010

VIVÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA

Desde que se abateu a crise financeira e depois económica, não antecipada na sua dimensão pela maioria dos gurus que sempre endeusaram o mercado e a sua resiliência, o quadro tem vindo a piorar e, mais grave ainda, a instalar-se a desesperança. Lembrar-se-ão certamente das afirmações de responsáveis governamentais que produziram pérolas como "Portugal está preparado para a crise" ou "a crise acabou".
Durante estes dois últimos dois anos começamos por ouvir os discursos que sugeriam a necessidade de mudar hábitos e estilos de vida, quer à escala familiar quer à escala do país. É preciso poupar, conter despesas, não podemos viver acima das nossas possibilidades, etc. têm sido discursos recorrentes e tal situação é traduzida, por exemplo, no aumento exponencial do crédito malparado das famílias.
Neste cenário, surge a proposta de Orçamento para 2011 que dadas as dificuldades e as prioridades com que parece ser concebido faz desabar sobre as famílias e os trabalhadores por conta de outrem a fatia mais pesada das dificuldades. Deve ainda acrescentar-se o abaixamento também previsto da fatia orçamental destinada às políticas sociais.
Por outro lado, reportando-se a dados de Junho, o INE informa que o salário médio nacional é de 777 € e que 1,44 milhões de pessoas têm salários abaixo dos 600 €, a que importa a acrescentar um milhão de reformados e pensionistas com pensões mínimas.
Este quadro implicará certamente um salto no trajecto de dificuldades que a maioria das pessoas tem vindo a fazer. Começámos por nos preparar para alterar as vivências, a forma como organizamos a nossa vida e as prioridades que definimos. Agora passamos para o patamar da sobrevivência, como aguentar o impacto das enormes dificuldades que temos pela frente tão mal equipados para o combate.
Adivinham-se tempos ainda mais complicados, a luta pela sobrevivência quase sempre tem coisas muito feias.

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