quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A VIOLÊNCIA ESCOLAR CRIMINALIZADA (nota 1)

Tal como vinha sendo anunciado, o Governo decidiu criminalizar o fenómeno da violência escolar envolvendo “maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações de liberdade e ofensas sexuais a qualquer membro da comunidade escolar a que pertença o agressor” o que inclui os fenómenos de bullying.
Tal decisão já vinha em agenda desde 2002 por proposta do CNE e não tendo nada a opor à decisão gostava de chamar a atenção para algumas notas.
Em primeiro lugar uma referência aos professores. A imagem social dos professores tem vindo a sofrer uma erosão significativa, alguns estudos e a chamada "opinião pública" reflectem-no. As razões são variadas e dificilmente compatíveis com este espaço mas creio que uma boa parte da política educativa dirigida aos professores nos últimos anos, uma boa parte dos discursos dos lideres sindicais e os discursos ignorantes e irresponsáveis de alguns "opinion makers" têm dado um bom contribuo para que, em termos sociais, a imagem dos professores se desvalorize. Este processo mina de forma muito significativa a relação que pais e alunos têm com os professores, ou seja e sendo deselegante, "uma classe de gente que não trabalha", "que não se interessa pelos alunos", "que não quer ser avaliada", etc., (basta ver muitos dos comentários on-line a notícias que envolvem professores), não é, obviamente uma classe que mereça respeito pelo que se instala de mansinho um clima de reacção, desconfiança e fraqueza que minimizam o exercício da autoridade. Os pais e alunos que agridem e ofendem professores são uma espécie de "braço armado" dessa imagem social induzida.
Por outro lado, a cultura profissional e institucional em boa parte das nossas escolas e agrupamentos é ainda marcada por um excesso de individualismo. Quero dizer com isto que, lamentavelmente, os professores evidenciam níveis de cooperação e partilha profissional abaixo do que seria desejável. As razões serão várias e não cabem aqui, mas creio que justificam, muitas vezes, a não realização de queixas de incidentes, muitas vezes graves, por receio de exposição e demonstração de fragilidades face a colegas e responsáveis, o que uma cultura de maior cooperação atenuaria. Acresce ainda que, por desatenção, incompetência ou negligência muitas direcções de escolas e agrupamentos não vão muito longe na definição de dispositivos de apoio, recorrendo a outros docentes mais experientes ou à presença de dois professores por exemplo, que dariam aos professores apoio e confiança para o trabalho com os seus alunos.
Finalizando e, independentemente, da criminalização das ofensas físicas a professores, urge caminhar no sentido de reconstruir a imagem social dos professores como fonte imprescindível de autoridade, saber e importância e, paralelamente, incentivar a construção nas escolas de dispositivos leves e ágeis de apoio aos professores de forma a que cada um não se sinta entregue a si próprio e com receio de "enfrentar" os alunos e os pais, a pior das situações em que um docente se pode sentir.
Este caminho é da responsabilidade de todos, ministério, sindicatos, direcções de escola, pais, professores e alunos.

2 comentários:

Joaquim Ferreira disse...

A dada altura , diz o seguinte: "os professores evidenciam níveis de cooperação e partilha profissional abaixo do que seria desejável." Pergunto: Como é possível que, até 2005, tenha sempre partilhado tudo desde saberes a metodologias, passando por pequenas coisas da fundamentais à profissionalidade docente e, a partir de 2006 tenha passado a guardar tudo para meu uso pessoal, para o sucesso e êxito exclusivo dos meus alunos? Será que me sabe responder? Se sabe, tem aí a chave do que é a pouca vergonha de um país que cria as regras para aceder a uma profissão, abre concursos e escolhe os mais qualificados e depois os maltrata, insulta, rebaixa ao ponto de os professores terem, hoje, em Portugal, o pior nível de prestígio de todos os tempos. E note que falo com conhecimento da realidade de outros países europeus. Exerço em Espanha há mais de 4 anos e estive a leccionar em Paris durante outros 4 anteriores. Em nenhum deste países a imagem dos professores é rebaixada por nenhum político. Admiram-se quando vêem o que se passa em Portugal, e indignam-se quando percebem que os professores são avaliados pelos resultados dos alunos, que para além do absentismo do próprios (e bem!) também são culpabilizados pelo absentismo dos alunos (comos e pudéssemos entrar nas casas dos portugueses e fazer levantar da cama os alunos que ficam a dormir porque estiveram a jogar "Counter Strike" com um amigo do outro lado do hemisfério (Brasil, Japão...) ou que, nas horas em que devem estar na escola (sob pena de terem falta e serem penalizados por absentismo docente), os professores fossem pelas feiras, pelos campos ou pelas margens dos riso, à procura dos faltosos... Mais indignados (nestes países responsabilizam-se as famílias pelas faltas e abandono escolar. Em Portugal castigam-se os professores na Avaliação... Enfim... Uma vergonha de país. Um bando de incompetentes que chegou ao poder por eleição quando os professores chegaram ao lugar que ocupam depois de muito avaliados, por muitos e muitos professores. E, se de alguns desses professores até podem duvidar (naturalmente todos pensam que é legítimo colocar em dúvida a competência dos outros mas a competência própria, nem pensar!) da maioria deles, catedráticos das Universidades. E não estou a falar da Universidade Independente porque essa até atribuiu o título de Engenheiro a quem já se considerava há muito como tal (o que, em certa medida até explica a atribuição do título não tivesse ele conseguido "engenhar" maneira de chegar a Primeiro-Ministro!).
Falo das verdadeiras e insuspeitas universidades de Portugal que formam e profissionalizam os professores que, depois de os avaliarem e colocarem num "ranking" (leia-se, diferenciação dos professores através da classificação final que é atribuída aos alunos das licenciaturas em ensino!) este governo veio permitir que um "professor" classificado por aqueles com uma menor valorização (e como tal, menos competente nas áreas da educação!) passe a avaliar aqueles que demonstraram no local próprio, uma maior competência. E não me venham com esta de que o curso não é par a vida. Até podemos necessitar de formação contínua. E essa já se fazia. Se o resultado da avaliação era igual para todos (e fui formador desde 1994 a 2000) a verdade é que a lei assim o exigia. Rebaixavam-se professores que mereciam 18 valores a uma classificação de Satisfaz por imposição da lei, feita por políticos tão incompetentes como os actuais e que seguirão sem ser verdadeiramente avaliados. Ora, se quando em igualdade de circunstâncias, os professores que se formaram com uma nota superior são avaliados por quem teve nota inferior, como é que o inferior vai ter o conhecimento do que ficou à frente para o avaliar? É impossível. Quem menos sabe nunca poderá avaliar com correcção quem menos sabe.
Caminhos Tortuosos da Educação em Portugal
(Continua!)

Joaquim Ferreira disse...

(Continuação!)
Mas o que mais admira os estrangeiros é saberem que os professores são responsabilizados pelo índice de abandono escolar dos seus alunos. E perguntam: como fazem aqueles que vivem em bairros de ciganos, romenos, ou outros que preferem o RAP das ruas e os subsídios a estudar para concluir estudos e pagar impostos? Eu esboço um sorriso e encolho os ombros e sussurro: "Que querem que faça? Isto é o Portugal Moderno e Socialista!"
Na verdade, aos professores e às escolas, os políticos atribuem a culpa de todos os males da sociedade. Quantas vezes, até dos acidentes na estrada ou da agressividade dos adeptos ou dos jogadores nos campos de futebol. Tudo o que há de mau no país (incluindo a baixa produtividade dos "calaceiros" portugueses que ficam em Portugal porque aí têm trabalho enquanto os piores trabalhadores têm que emigrar e sendo desejados e respeitados porque são excelentes trabalhadores e ajudam os países a ir longe... Sim. Bem mais longe do que o fazem os excelentes trabalhadores que ficam em Portugal e não têm de emigrar (incluindo os que ficam a governar). Parece impossível mas a verdade é que Portugal, ficando com os melhores dos melhores (Sim. Com os melhores pois os que não conseguem trabalho devem ser os que menos competências têm e como tal, são indesejados nas empresas e têm de emigrar!) não consegue sair da cepa torta". Mas aprece que só os professores é que produzem pouco (um bando de calaceiros e preguiçosos) ou que só têm férias (como diz alguém com pouca massa cinzenta de nome Miguel de Sousa Tavares!). Na verdade, de entre os trabalhadores portugueses, os professores são dos que mais puxam pela carroça. Nenhum professor fica feliz se vê que os resultados dos seus alunos não melhoram (o que é bem diferente de fazer deles os melhores!). Na verdade, se "ninguém pode dar aquilo que não tem" não é menos verdade que "ninguém pode tirar muito de onde há pouco"! Perguntem aos ministros das finanças... Portugal situa-se de entre os países onde a produção "per capita" é mais baixa de toda a Europa. E não consta que os professores produzam mercadorias (seja roupa, calçado, parafusos ou guarda-chuvas!) que possam ser exportadas!... Onde está o mal, então? Ajudem-me. Será nos professores? Ou numa mentalidade tacanha de "chico-esperto" que não se importa de receber pouco se o vizinho ganhar ainda menos!... Que insulta antes de ser insultado. Que quando tem o poder na mão, rebaixa os que lhe são superiores para que se possa sentir mais feliz!... E fico por aqui que já me estendi demasiado... demasiadamente! Espero-vos na tertúlia da blogosfera. Vemo-nos em Não Calarei A Minha Voz... Até Que O Teclado Se Rompa ! . Vejam alguns destes links. E comentem.
Legislatura de Sócrates - A tempestade Perfeita !
"A Verdade do Discurso" VS "O Discurso da Verdade"
Que Trio de Incompetentes !