Na 5ª feira da semana passada foi divulgado o Relatório de Segurança Interna de que retiramos os dados relativos à criminalidade associada à violência doméstica. Foram registados mais de 17000 casos envolvendo um aumento de 3287 casos o que corresponde a um aumento de 30%. Este número torna-se ainda mais pesado se considerarmos que, de acordo com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), 53% dos casos que lhe foram reportados não terão sido denunciados às autoridades judiciais ou policiais.
A propósito de outras questões, já aqui nos referimos às alterações que nos últimos anos se têm vindo a verificar no âmbito das dinâmicas familiares e nos modelos de organização familiar. Estas alterações, que decorrem de razões diversas e assumem implicações também elas de natureza bem diferente, parecem, estranhamente, não se reflectir no fenómeno da violência no contexto familiar. Embora não tenha tido acesso a dados mais finos e esclarecedores, um dos aspectos que me causam maior perplexidade e, sobretudo, preocupação reside no facto de que, se por um lado, as alterações nos modelos e dinâmicas familiares parecem envolver, naturalmente, indivíduos mais novos, genericamente mais comprometidos voluntaria ou involuntariamente em processos de mudança, o aumento da criminalidade ligada à violência doméstica não traduz uma mudança de valores e atitudes nas relações intra-familiares. Colocada a questão de outra maneira, será que podemos afirmar que temos pessoas disponíveis e/ou sujeitas a novos modelos de organização e funcionamento da família mas que, simultaneamente, mobilizam comportamentos mais violentos nas relações interpessoais interiores à família? E se assim for, como pode ou deve a comunidade intervir em contextos familiares marcados pela violência assente em questões de género e/ou poder?
(Foto de Jmac)
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