sexta-feira, 30 de setembro de 2022

VIOLÊNCIA ENTRE JOVENS

 Nos últimos dois dias registaram-se episódios de violência e agressão entre adolescentes e jovens. Considerando a gravidade, implicações e frequência (apesar dos episódios conhecidos serem apenas uma parte dos que ocorrem), parece-me sempre importante reflectir sobre eles o que me leva a retomar algumas notas.

Os comportamentos agressivos e abusos entre jovens em contexto escolar, bullying por exemplo, ou fora deles, na vida nocturna por exemplo, são de sempre ainda que os estudos destes fenómenos sejam mais recentes. Não sendo também um fenómeno recente importa considerar o impacto da acção de grupos de adolescentes e jovens, os "gangues", a que as redes sociais dão amplificação e também alimentam. O volume e a gravidade de alguns episódios e, sobretudo, a sua mediatização através das redes sociais acrescentam uma maior visibilidade e preocupação que tem sido expressa nos mais recentes relatórios sobre segurança.

Na verdade e com alguma inquietação, em vários estudos ultimamente realizados constata-se que os adolescentes tendem a encarar a violência entre si e de uma forma geral, como normal o que não surpreenderá os mais atentos. A sociedade da informação, os sistemas de valores e um lado B dos actuais estilos de vida a que podemos acrescentar alguns conteúdos de vídeo jogos ou séries banalizam a violência, não são os adolescentes que a banalizam embora não esteja a estabelecer relações de causa e efeito.  Acrescem os contributos advindo de problemas sociais sérios que exclusão, pobreza, ausência de projectos de vida, etc., alimentam.

Por outro lado, a escola e o meio circundante, por serem os espaços onde os adolescentes e jovens passam a maior parte do seu tempo são, naturalmente, os espaços onde emergem e se tornam visíveis os problemas e inquietações que muitos alunos carregam. No entanto, não é possível considerar-se que a escola é mágica e omnipotente pelo que tudo resolverá. Tudo pode envolver a escola, mas nem tudo é da exclusiva responsabilidade da escola, família e outros actores da comunidade devem assumir responsabilidades até porque muitos dos jovens participantes nestes episódios estão já fora da idade de cumprimento da escolaridade obrigatória.

No entanto, sem desresponsabilizar as famílias importa não esquecer que alguns pais se sentem tão perdidos quanto os filhos, têm elas próprias dificuldades e disfuncionalidades que são parte do problema e não da solução pelo que também elas precisam de apoio, só responsabilizá-las não chega.

No que respeita à violência entre jovens, um fenómeno complexo, existem ainda duas questões que me parecem essenciais e contributivas para lidar com a situação. Em primeiro lugar é importante criar nos adolescentes jovens ou adultos vitimizados a convicção de que se podem queixar e denunciar as situações e encontrar dispositivos de apoio que garantam a protecção da vítima pois o medo de represálias é o principal motivo da não apresentação da queixa, sobretudo entre os mais novos. É importante também que os actores da escola e da comunidade saibam detectar nos adolescentes e jovens alunos sinais que indiciem vitimização e mal-estar.

Em segundo lugar, é preciso contrariar no limite do possível a ideia de impunidade, de que não acontece nada ao agressor. As escolas, tal como a comunidade em geral, podem e devem assumir atitudes e discursos que, visivelmente, mostrem um sinal de que não existe tolerância para determinados comportamentos.

É também importante que famílias, escolas e demais instituições com intervenção social estejam atentas e que possam ser dotadas de dispositivos de apoio e recursos suficientes e competentes que permitam o desenvolvimento de iniciativas no plano da formação e apoio aos adolescentes e jovens, integrados ou não nos conteúdos curriculares, que, tanto quanto possível, minimizem o risco de incidentes como os que têm ocorrido.

Os discursos demagógicos e populistas não são um bom serviço prestado à minimização destes incidentes que minam a qualidade cívica da nossa vida.

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