sexta-feira, 13 de setembro de 2019

PERMITAM-LHES A SESTA, É UM BEM DE PRIMEIRA NECESSIDADE


Coincidindo com o início do ano lectivo foi ontem publicada a Resolução da Assembleia da República n.º 178/2019 que recomenda ao Governo que “Estude e avalie a possibilidade da introdução da sesta nos estabelecimentos de educação pré-escolar”, considerando, a “importância do sono” e a necessidade de “articulação da implementação da sesta com as orientações curriculares para a educação pré-escolar e a organização dos horários e tempo lectivo e não lectivo dos educadores de infância” devendo, para isso que sejam asseguradas “As condições materiais e humanas que são necessárias garantir para um período de sono com qualidade”.
A este propósito umas notas começando por duas referências de natureza pessoal.
Há muitos anos o meu filho frequentou um jardim-de-infância da rede social, onde esteve globalmente muito bem acompanhado, a adaptação correu bem, mas a partir de certa altura começou a pedir para que se possível o fôssemos buscar logo a seguir ao almoço. Para abreviar a história só algum tempo depois é que percebemos que o gaiato, na altura com quatro anos e ainda um sesto-dependente, se sentia muito desconfortável por ter de dormir calçado, isso mesmo, calçado. Falámos com a educadora e com a auxiliar, a situação alterou-se, a sesta ficou tranquila e o João feliz. Era um exemplo de miúdo para o qual a sesta era importante e foi-o mais algum tempo, ainda nos rimos hoje cá em casa porque era frequente quando passeávamos naquela época ter que me sentar num banco de jardim onde ele adormecia facilmente durante um tempinho, ficando pronto e em forma para o resto do dia.
Ontem, curiosamente, num outro jardim-de-infância da mesma instituição o meu neto Pequeno de três anos, o Tomás, iniciou a sua viagem pela educação em instituição. Tal como para o pai, para o Tomás continua a ser imprescindível a sesta notando-se bem no seu estar os dias em que por qualquer razão não dorme o tempinho da tarde.
Na verdade, é conhecido que em muitas instituições, por várias razões, logísticas por exemplo, se determina uma idade, quase sempre aos três anos e menos frequentemente aos quatro, a partir da qual se retira às crianças a possibilidade da sesta, "proibindo-a".
Como em muitos outros aspectos as crianças não têm padrões de sono/vigília iguais pelo que umas, mais cedo que outras, começam a dispensar a sesta e algumas, é bom não esquecer, a adquirir estilos de vida que não sendo contrariados pelas famílias as levam rapidamente a viver com menos horas de sono do que seria desejável com várias consequências menos positivas. Todos os estudos sobre esta questão assinalam a falta de qualidade do sono nas nossas crianças e também nos mais velhos com consequências significativas em várias dimensões, comportamento, rendimento escolar, saúde física, etc.
Por outro lado, muitas vezes a alternativa que em muitas instituições é oferecida para ocupar este tempo é ela também de má qualidade. Não há muito tempo foi divulgada a situação de crianças que não faziam a sesta e ficavam numa sala na penumbra a olhar para um ecrã.
Deve ainda considerar-se que boa parte das crianças estão nas instituições durante um número de horas significativo pelo que a sesta poderia ser um factor de repouso e corte numa presença institucional diária de longa duração.
Assim, parece uma questão de bom senso e qualidade educativa, permitir que nos jardins-de-infância da rede pública, social ou privada se disponibilizem as condições adequadas e sem o limite rígido da idade para que as crianças cumpram uma sestazinha que para muitos é um bem de primeira necessidade.

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