domingo, 25 de maio de 2014

ANTES DE DIZER QUE GANHARAM, PENSEM NO QUE TEMOS VINDO A PERDER

"Projecções para a abstenção em Portugal entre 61% e 66,6%"

Antes de começar a retórica do ganharam todos, pensem no que se perdeu. Costumo dizer que uma das vantagens da velhice é ter história e ter histórias. Hoje, dia eleições para o Parlamento Europeu, ao andar pela rua sem notar nada que lembrasse o acto eleitoral, lembrei-me das primeiras eleições realizadas em Portugal depois de 1974, livres, como lhes chamámos. Realizaram-se a 25 de Abril de 1975 e tratava-se da eleição para a Assembleia Constituinte. Provavelmente, os mais novos não saberão e alguns dos mais velhos não se lembrarão mas votaram uns esmagadores 91,2% dos cidadãos inscritos. Depois de um período sem eleições livres a mobilização foi espantosa, lembro-me de que se viam autênticas romarias para os locais de voto. Passei cerca de 5 horas numa fila de gente para votar e não se ouvia um protesto, antes pelo contrário, o clima parecia de festa, a festa da cidadania e da democracia.
Hoje, quando forem conhecidos os primeiros resultados virão as lideranças partidárias, todas, reclamar vitória, a curiosidade está apenas nos critérios de justificação porque todos “ganharão”. Em bom rigor, a posição política que mais eleitores terá atraído será justamente a abstenção, espera-se um valor entre 61 e 66.6%, ou seja, os eleitos representarão uma minoria dos cidadãos. Este é que é o verdadeiro resultado eleitoral a carecer de análise. Que fizemos da nossa mobilização para a participação? Que fizemos da nossa capacidade de acreditar que o voto faz sentido? Porque se instalou esta atitude de descrença e indiferença? Porque estaremos convencidos de que “não adianta” “são todos iguais”?
Estas e outras questões, creio, deveriam ser o mais sério objecto de análise de toda a gente que, daqui a umas horas, encherá os espaços da comunicação social.

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