terça-feira, 28 de maio de 2013

ESTÁS REQUALIFICADO. Eras um empregado, passas a ser um desempregado

Quando eu era miúdo e como muitas vezes acontecia com connosco, se estávamos onde não devíamos logo algum adulto soltava um "ponham-se a mexer daqui" e nós ... púnhamo-nos a mexer dali, quase sempre a contragosto.
Mais recentemente e com a emergência da preocupação com os estilos de vida saudáveis, entrou no léxico uma outra referência à ideia de movimento, "pela sua saúde, mexa-se" e muita gente se mexe pela rua ou pelos ginásios à procura de melhor qualidade de vida.
Entretanto e nos últimos tempos surgiu a mais curiosa das utilizações da ideia de movimento, isto é, uma figura inventada pela administração pública que retoma o discurso dos adultos do meu tempo mas em vez de soltar um assertivo "ponham-se a mexer daqui", cria um sistema de mobilidade, uma figura curiosa para colocar os funcionários descartáveis em movimento, isto é, dali para fora.
De facto, o Governo entende que existem funcionários público a mais, algo que as comparações internacionais não suportam, uma vez que parece mais um problema de gestão e qualificação do que de excedentes, quer despedi-los, mas a lei, a Constituição, sempre a Constituição, atrapalham e então é criada uma estranha figura, o sistema de mobilidade, justamente para pôr os funcionários a "mexer dali".
No entanto, em termos de marketing e comunicação política,  a terminologia não é muito simpática e muda-se para sistema de mobilidade para sistema de requalificação, uma sala de espera passageira para onde se enviam os funcionários descartáveis a quem se dá uns trocos durante alguns meses e pronto, eles põem-se definitivamente a mexer.
Na verdade, a última designação parece a mais acertada, o novo sistema vai proceder à requalificação da pessoas, perdem a qualificação de empregados e ganham, uau! a qualificação de desempregados com a qual ficarão pobres mas felizes para sempre.
A isto chama-se, dizem, convergência de sistemas e procedimentos, ou seja, a pobreza quando nasce é para todos (quase), há que democratizar o acesso à condição de pobre.
Volto a recordar os adultos do meu tempo, era altura de pôr esta gente a mexer dali para fora. O problema é a gente que a seguir virá.

Sem comentários: