domingo, 15 de julho de 2012

A ESCOLHA DOS CURSOS. Que critérios?

Aproximando-se o início das matrículas no ensino superior a questão em torno da escolha do curso reentra na agenda. O Público e o DN dedicam-lhe extensos e interessantes trabalhos sublinhando a imensidade da oferta. O MEC decidiu assumir um papel  regulador da oferta procurando  corrigir os fortíssimos enviesamentos verificados, com consequências quer ao nível da qualidade da formação, quantidade é pouco compatível com qualidade, quer da empregabilidade. Um relatório recente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior mostra, dados de 2011, uma taxa de 69.79% de preenchimento de vagas e da análise a 71 áreas de estudo conclui-se que em 80% existe excesso de oferta. O Relatório, encomendado pelo Conselho de Reitores, aponta a óbvia necessidade de racionalização da rede. De há muito que defendo este entendimento. Na verdade, o ensino superior em Portugal tem como questão estrutural o sobredimensionamento da rede.
No entanto, do meu ponto de vista, para além da imprescindível racionalização da rede, envolvendo ensino superior universitário e politécnico e público e privado coloca-se sempre a questão da escolha e dos critérios a considerar em caso de dúvidas. Há alguns dias a Visão solicitou a minha opinião a propósito da qual deixo umas notas breves retomadas de um texto recente.
Os jovens deverão seguir a sua motivação e interesse, ou a escolha deve obedecer ao que se conhece do mercado de trabalho, isto é, nível de empregabilidade e saída profissional?
Para muitos de nós, provavelmente, a resposta será fácil, seja num sentido ou no outro. Alguns dirão que cada jovem deve, obviamente, seguir o seu desejo, o seu gosto, só assim se realizará. Ideia romântica e sem noção da realidade que corre o sério risco de desembocar no desemprego, dirão outros para os quais a escolha deve ser racional, pragmática, realista, o jovem deve procurar uma formação que lhe garanta, tanto quanto possível, saída profissional e para isso deve "estudar" o mercado e assim proceder à escolha. Os primeiros acharão que este entendimento pode levar a um risco de frustração e desencanto que podem instalar-se em quem "faz o que não gosta".
Na verdade não será fácil a escolha para muitos jovens a que acresce, frequentemente, a pressão familiar ou de outras pessoas para a "escolha acertada".
Dito isto, sou dos que entendem que cada um de nós deve poder escrever, tanto quanto as circunstâncias o permitirem, a sua narrativa, cumprir o seu sonho. Por outro lado, a vida também nos ensina que é preciso estar atento aos contextos e às condições que os influenciam, sabendo ainda a volatilidade e rapidez com que hoje em dia a vida acontece.
Nesta perspectiva, parece-me importante que um jovem, sabendo o que a sua escolha representa, ou pode representar, nas actuais, sublinho actuais, condições do mercado de trabalho, faça a sua escolha assente na sua motivação ou no projecto de vida que gostava de viver e, então, informar-se sobre opções, sobre as escolas e respectivos níveis de qualidade.
Finalmente, do meu ponto de vista, boa parte da questão da empregabilidade, mesmo em situações de maior constrangimento, relativiza-se à competência, este é o ponto fulcral.
Na verdade, o que frequentemente me inquieta é a ligeireza com que algumas pessoas parecem encarar a sua formação superior, assumindo logo aqui uma atitude pouco "profissional", cumprem-se os serviços mínimos e depois logo se vê. O caso recente de Miguel Relvas é exemplo extremo deste entendimento, a formação não é um conjunto de saberes e competências, é um título que se cola ao nome.
Mesmo em áreas de mais baixa empregabilidade, ou assim entendida, continuo a acreditar que, apesar dos maus exemplos que todos conhecemos, a competência e a qualidade da formação e preparação para o desempenho profissional, são a melhor ferramenta para entrar nesse "longínquo" mercado de trabalho.
Dito de outra maneira, maus profissionais terão sempre mais dificuldades, esteja o mercado mais aberto ou mais fechado.

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