terça-feira, 31 de julho de 2012

A SAÚDE A FUGIR

Segundo estudo hoje divulgado no Público, cerca de 42% dos inquiridos refere que o orçamento familiar começa a ser insuficiente para despesas com a saúde, sendo que 35.8% deixaram nos últimos seis meses de comprar medicamentos prescritos.
A situação sendo grave não é propriamente estranha. Em Junho, o Relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, apesar de conter algumas apreciações positivas a alguns aspectos das políticas de saúde, alertava para dificuldades no acesso da população aos cuidados de saúde, “não se atende suficientemente às dificuldades e necessidades crescentes de uma população em empobrecimento”, afirmava-se.
Tal como no estudo hoje conhecido, também o Relatório continha algumas preocupações com os efeitos das taxas moderadoras, com as consequências de um risco de "racionamentos implícito" nos serviços públicos de saúde que inibam a “prestação de cuidados de saúde necessários” e também afirmava que "existem claros sinais relativos à diminuição da acessibilidade aos medicamentos por parte dos doentes, associada ao seu empobrecimento”.
Este quadro, não pode ser surpreendente. Aliás, há ainda mais tempo, creio que em 2011, o Director da Escola Nacional de Saúde Pública já referia o risco de se verificarem situações de ausência de consulta ou tratamento por falta de condições financeiras, quer no que respeita aos serviços, quer por dificuldades das próprias pessoas.
Os indicadores que sucessivamente vão sendo conhecidos mostram um abaixamento significativo das consultas e de tratamentos providenciados devido às dificuldades económicas de muitas pessoas conjugadas com o aumento dos custos dos serviços e das taxas moderadoras.
Por outro lado, quando tanto se fala no estado social, nos limites desse estado, a privatização de serviços, por exemplo na saúde, é fundamental perceber e entender que a comunidade tem sempre a responsabilidade ética de garantir a acessibilidade de toda a gente aos cuidados básicos de saúde. Os tempos que atravessamos, criando obstáculos ao acesso aos serviços de saúde são ameaçadores. Como afirmou Michael Marmot, que recentemente esteve em Portugal, todas as políticas podem, ou devem, ser avaliadas pelos seus impactos na saúde.
Talvez a ideia do "custe o que custar" seja de repensar, pela nossa saúde.

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