sábado, 9 de julho de 2011

O DESPUDOR

Nos últimos tempos, também por imposição dos termos do negócio que assinámos com a chamada “troika”, entrou na agenda a reorganização administrativa do país, implicando, entre outros aspectos, a diminuição de freguesias e concelhos.
É conhecida a reacção, natural, de alguns autarcas defendendo a manutenção do quadro actual como também é conhecida a dívida imensa e a desregulação em que vive muito do mundo autárquico. Ainda há dias o Dr. Paulo Morais, ex-vereador da Câmara do Porto, mostrava como se desenvolve a prática habitual em muitas autarquias no que respeita a negócios imobiliários.
Sabe-se também como as autarquias e as empresas municipais, na maioria ineficazes e fonte de enormes prejuízos, são frequentemente privilegiadas extensões dos aparelhos partidários e pagamento de fidelidades, transformando-se em sorvedouros de dinheiro sem que sirvam de forma eficaz o bem comum, justificação primeira e última da sua existência.
Uma das facetas negativas e visíveis deste universo é teia de interesses pessoais e muitas situações, sobejamente conhecidas umas, e localmente comentadas outras, de enriquecimento sem justificação aparente de muitos autarcas. Os casos comprovados em tribunal são residuais e mais habitualmente nada acontece como muitas vezes tem sido denunciado por algumas vozes, caso de Maria José Morgado.
O Expresso coloca hoje em 1ª página, opção que se estranha pois é uma situação recorrente, o facto do presidente da Câmara de Loures ter dado empregos de relevo a familiares próximos na estrutura dirigente do município, seguindo exemplos como o de Grândola, recentemente divulgado.
Lamentavelmente, a situação já não me surpreende e, por coincidência, surge no dia em que decorre o XIX Congresso da Associação Nacional de Municípios e num tempo em que se reclama maior municipalização de competências em diferentes áreas. O princípio é, do meu ponto de vista, correcto mas sem dispositivos de regulação e legislação ágil e eficaz temo que se potenciem alguns dos "comportamentos habituais".
O que me embaraça mesmo, pelo seu despudorado significado, é o comentário do autarca, “Admito que possa parecer mal mas não me pesa nada na consciência”.
Na verdade, ele tem razão, a consciência só pesa quando existe.

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