quinta-feira, 30 de junho de 2011

"SÓ AS CRIANÇAS ADOPTADAS SÃO FELIZES"

O Público de hoje aborda de novo a questão da adopção infantil em Portugal matéria que frequentemente aqui refiro. De 2008 para cá tem vindo a baixar significativamente o número dos candidatos à adopção e continuamos com uma elevada quantidade de crianças institucionalizadas, muitas das quais sem projectos de vida viáveis pese o empenho e o profissionalismo dos técnicos. Neste universo acresce a dificuldade enorme de algumas crianças em serem adoptadas devido a situações como doença, existência de irmãos ou uma idade já elevada. Assim, muitas crianças estarão mesmo condenadas a não ter uma família. Curiosamente, existem famílias interessadas na adopção de bebés que esperam até cinco anos porque entre os mais pequeninos passíveis de adopção, o número é menor, situação que se mantém, os candidatos à adopção preferem as crianças abaixo dos 3 anos.
Como é óbvio, um processo de adopção é algo cuja qualidade não pode em momento algum ser hipotecada e o Plano Nacional de Adopção zela por isso. No entanto, parece claro que o processo carece de agilização de modo a que os candidatos à adopção não desistam assustados com a morosidade.
Apesar da necessária cautela e qualidade dos processos o trabalho do Público levou-me a alguma reflexão que queria partilhar convosco. No âmbito do processo os candidatos passam por uma "Formação" e dois em cada cinco candidatos desistem após a primeira aula deste curso para "pai/mãe adoptante". Percebo a ideia de potenciar o sucesso da adopção mas um "curso" soa-me a estranho e com mais dúvidas fiquei face a alguns exemplos sobre as "aulas", ainda que corra o risco de estar a falar apenas a partir do exemplos citados. Muitos pais, apesar das criança não virem com manual de instruções desenvolvem a sua acção educativa com serenidade e de forma tranquila, com os erros próprios da condição humana e da natureza da educação familiar. Não precisam de curso de pais, precisam, creio eu, de sentir que têm apoio para eventuais dificuldades. Um curso para pais nos termos em que me pareceu estar estruturado pode, ainda que de forma não intencional, antes pelo contrário, ter um efeito dissuasor, pois assusta os candidatos face aos "enormes" problemas que as crianças vão colocar. O resultado é a elevada desistência após a primeira aula. Será que se este curso fosse ministrado a todas pessoas que querem ter filhos a sua intenção se mantinha? Duvido, ficariam certamente assustadas. Para algumas pessoas não seria mau mas para outras, muitas, provavelmente, perder-se-ia a possibilidade de ter uma família feliz, ainda que com as dificuldades próprias dos processos educativos familiares.
Quando penso nestas situações lembro-me sempre de uma expressão que ouvi já há algum tempo a Laborinho Lúcio num dos encontros que tenho tido o privilégio de manter com ele.
Dizia Laborinho Lúcio que "só as crianças adoptadas são felizes, felizmente a maioria das crianças são adoptadas pelos seus pais”. Na quase totalidade das situações sem "Curso" para pai.

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