terça-feira, 10 de março de 2009

UM RAPAZ CHAMADO QUASE PERFEITO

Conheci uma vez um rapaz chamado Quase Perfeito. Ansiosamente desejado e esperado pelos pais, desde muito pequeno o acharam Quase Perfeito. Não fora uns pequenos pormenores, por vezes chorar a destempo, perturbando a noite dos pais ou não gostar muito de se rir para estranhos, por exemplo, e seria mesmo perfeito. Ao entrar na escola, o Quase Perfeito foi extraordinariamente pressionado para a obtenção de bons resultados. Foi sempre bom aluno, mas os pais entendiam que se podia esforçar mais pois era Quase Perfeito. Tudo o que lhe era pedido, por quem quer que fosse, tinha que ser realizado de forma excelente. O Quase Perfeito, aos poucos, começou a sentir dificuldades para lidar com a exigência. Ele até sabia que era Quase Perfeito, mas os pais esperavam melhor, sempre melhor. Na adolescência ficou ainda mais aflito porque o seu projecto de vida não correspondia ao que os pais tinham pensado, decidido, para ele. Tentou esforçar-se, afinal era Quase Perfeito, mas não conseguiu cumprir o destino que lhe estava traçado e desistiu. Pouco depois dos vinte, partiu, foi para longe onde ninguém o conhecia e até mudou de nome, passou a chamar-se Agora Sou Eu.
Os seus pais tiveram um quase filho.

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