No DN encontrei uma peça sobre o trabalho que a ONG “Teach for Portugal” desenvolve em Portugal desde 2019 e que aqui já tenho referido.
Durante estes cinco anos a Teach
for Portugal já envolveu mais de 30 mil alunos em 91 escolas de norte a sul do
país.
De acordo com uma responsável da
organização, “Comparados os resultados dos alunos com mentores e dos alunos
sem mentores, verifica-se uma redução de 26% das negativas entre o primeiro e o
terceiro período nas turmas em que o programa está ativo”. A intervenção da
organização realiza-se sobretudo em escolas em escolas em que a percentagem de
alunos apoiados pela Ação Social Escolar é superior a 50%,
Na peça refere-se que a “Teach
for Portugal contrata jovens licenciados por dois anos lectivos, pagando cerca
de 28 mil euros, para assumirem um compromisso de envolvimento e liderança.
Depois de selecionados, têm 350 a 400 horas de formação intensiva, normalmente
no período do verão, antes do ano letivo, em metodologias diversas para dinamizar
grupos. Em cinco anos a organização já formou 200 mentores e estão atualmente
ativos mais de 100. Acabam por ter um horário semanal de 40 horas, sendo que
uma parte do horário é destinado à recuperação de aprendizagens a matemática,
português e inglês, as disciplinas nucleares.”
A organização tem um conjunto de
parcerias envolvendo o Estado, com financiamento enquadrado pelo PT2030, e
entidades privadas e municípios. Entre os parceiros privados estão, por
exemplo, a Fundação Santander e a Fundação BPI – La Caixa.
Algumas notas no sentido em que
algumas vezes já aqui referi sobre este projecto.
Como é evidente, registo todas as
iniciativas que possam contribuir para minimizar ou erradicar problemas, mas já
me falta convicção no impacto do modelo mais habitualmente seguido.
Para cada constrangimento ou
dificuldade percebida nas e pelas escolas e com regularidade, aparece vindo de
fora ou gerido de fora, um Plano, um Projecto, um Programa, uma Iniciativa, as
combinações são múltiplas, destinado a essa problemática.
Durante as últimas décadas, perco
a conta a planos, projectos, programas, experiências inovadoras, que chegaram e
chegam às escolas para combater o insucesso ou, pela positiva, promover o
sucesso, promover a leitura e escrita, promover a matemática, promover a
educação científica, promover a educação inclusiva, a aprendizagem emocional,
erradicar ou minimizar o bullying, a relação entre escola e pais e encarregados
de educação, promover a expressão artística e a criatividade, promover
comportamentos saudáveis e actividades desportivas, literacia financeira,
promover a inovação e as novas tecnologias, para não falar de iniciativas mais
"alternativas", por assim dizer, e que têm poderes mágicos, parece. A
lista enunciada é apenas exemplificativa e não está em causa a pertinência ou
juízo sobre as dimensões citadas, trata-se do modelo de abordagem.
Com demasiada frequência muitos
destes projectos vêm de fora das escolas, as origens são variadas, não chegam a
envolver a gente das escolas, esmagada pelo trabalho, burocracia e outros
constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor forma possível o
dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado. Importa ainda não
esquecer as dificuldades severas que muitos agrupamentos e escolas têm vindo a
sentir com a falta de recursos humanos, professores, técnicos e auxiliares
actualmente.
Também com demasiada frequência
muitos destes projectos morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são
avaliados de forma robusta e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o
portfólio dos organizadores e proporcionam uma experiência que se deseja
positiva aos intervenientes no tempo que durou, mas sem mais impacto.
Também demasiadas vezes estas
iniciativas consomem recursos com baixo retorno e ao serviço de múltiplas
agendas.
Ponto.
Tenho para mim, que não podendo a
escola responder a todas as questões que afectam quem nelas passa o dia
poderia, ainda assim, fazer mais se os investimentos feitos no mundo à volta da
escola e que lhe vem bater à porta com propostas fossem canalizados para as
escolas.
Com real autonomia, com mais
recursos e com modelos organizativos mais adequados as escolas poderiam fazer
certamente mais e melhor que quem vem de fora numa passagem transitória, mais
ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de
escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares,
auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes
domínios.
Directores de turma com mais
tempo para os alunos e menos burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em
múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em
número mais adequado, o que se verifica é inaceitável, poderiam acompanhar,
promover e desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos, professores,
técnicos e pais.
Mediadores que promovessem
iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a
experiência mostra-o, um investimento com retorno.
São apenas alguns exemplos de
respostas com resultados potenciais com um custo que talvez não seja superior
aos custos de tantos Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras
destinadas a múltiplas matérias e com custos associados de “produção” que já me
têm embaraçado, mas a verdade é que as agendas e o marketing têm custos.
Ainda este propósito, ficar
embaraçado, volto a contar uma experiência pessoal.
Há largos anos estava na altura
na Direcção-Geral do Ensino Básico e foi-me pedido que apresentasse numa escola
do 1º ciclo um Projecto em desenvolvimento pela Direcção-Geral destinado ao
ensino de português a crianças de famílias oriundas dos PALOP que aprendiam em
português na escola e falavam crioulo em casa. Apresentei o Projecto o melhor
que fui capaz aos professores da escola e no fim alguém me disse de uma forma
muito simpática, “Colega, o Projecto é muito interessante, mas sabe, já temos
24 Projectos na escola, não podemos fazer mais.”
Na verdade, a Projectite,
sobretudo vinda de fora, é uma opção com pouco potencial apesar, insisto, das
boas experiências que também se conhecem.
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