Há uns dias o Público divulgou um trabalho publicado pela The Lancet relativo a uma investigação realizada Universidade de Birmingham envolvendo mais de mil alunos de 30 escolas secundárias. O estudo teve como objectivo avaliar o impacto da proibição de utilização de telemóveis nas escolas no comportamento dos estudantes, na saúde mental e no desempenho escolar ou até mesmo o desempenho académico.
Os resultados “sugerem que as
políticas escolares restritivas actuais não influenciam significativamente a
utilização do telemóvel e das redes sociais nem se traduzem em melhores
resultados ao nível dos domínios mentais, físicos e cognitivos”,
Verifica-se ainda não diminui o
tempo de exposição a ecrãs, boa parte dos alunos “compensam” a restrição da
escola com mais tempo em casa.
Muitas vezes aqui tenho abordado
esta questão como a abordei em muitas sessões de trabalho com pais com filhos
de diferentes idades e tenho sustentado que, ainda que se possam compreender as
razões que sustentam as proibições, o uso excessivo e desregulado, as decisões
de proibição não me parecem consensuais. Aliás, também não tenho a convicção de
que uma estratégia de proibição, só por si, devolva crianças e adolescentes à
interacção pessoal e a outros hábitos comportamentais mais interessantes
embora, obviamente, seja imprescindível a regulação do seu uso o que não
significará, necessariamente, uma “lei seca” para telemóveis.
Por outro lado, também não é rara
a utilização de telemóveis associada a actividades de aprendizagem.
Do meu ponto de vista seria
importante também colocar a questão a montante, a utilização que todos damos a
estes dispositivos. Seria muito interessante e desejável que se discutisse a
sério (incluindo crianças e jovens) nas comunidades educativas a regulação dos
comportamentos e definição de regras e limites, sem “superpais”, sem
“superfilhos” ou “superprofessores”. No entanto, esta discussão tem de ser
acompanhada pela nossa, adultos, pais e/ou profissionais, regulação da sua
utilização. Se olharmos para muitas famílias em “convívio” ou para muitos
contextos profissionais em “reunião” verificaremos os ecrãs que muitos terão à
sua frente e perceberemos o que está por fazer, comportamento gera
comportamento.
Como também tenho referido, creio
que este movimento deve ser enquadrado na mudança que felizmente também parece
estar a emergir refreando o deslumbramento pela “transição digital” que,
enquadrando de forma ajustada a inevitabilidade de incorporar estas ferramentas
nos processos educativos, também volta a defender a importância de abordagens
metodológicas ou didácticas “antigas”, “conservadoras”, tais como escrever à
mão, desenhar, brincar na rua, ler em suporte papel, interagir presencialmente
ou promover relações afectivas literalmente mais próximas, tudo ferramentas
importantes de desenvolvimento e aprendizagem.
A ver vamos com a coisa evoluirá
por cá, as escolas podem decidir pela “proibição” mas continuamos submersos por
um tsunami de transição digital e, claro, de inovação e capacitação.
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