As chamadas “provas-ensaios”, que raio de designação, para os alunos do 4.º, 6.º e 9.º ano, iniciam-se na próxima semana e, sem surpresa, o MECI assegura que tudo está ou estará preparado, recupera-se o “vai correr bem”. Por outro lado, as escolas divulgam dificuldades nos equipamentos e nos dispositivos de acesso à net. Daqui a alguns dias conheceremos o que a realidade dirá, ou mais provavelmente as diferentes leituras que suscitará.
É ainda curioso que sendo as “provas-ensaio”
obrigatórias, as escolas poderão decidir se os seus resultados se reflectirão nas
avaliações dos alunos. Coloca-se uma outra dúvida, quais os critérios que informarão as decisões das escolas.
Como tive oportunidade de referir
em várias circunstâncias, a avaliação externa é uma ferramenta crítica na
regulação de qualidade dos sistemas educativos e o modelo anterior não cumpria
esse objectivo colocando avaliações a meio dos ciclos.
É, pois, ajustada realização das agora
provas de ModA (monitorização da aprendizagem) no final do 1.º e 2.º ciclo
integrando ainda este “ensaio” o exame final do 9.º ano.
A questão que me parece mais
crítica tem a ver com o “deslumbramento digital”, perdão, a transição digital.
Na verdade, tinha alguma
esperança de que o bom senso e a reflexão sobre o que se passa noutros sistemas
educativos que desencadearam uma reflexão e tomadas de decisão relativamente à
introdução em termos excessivos dos recursos digitais, pudesse contribuir para
um maior equilíbrio e prudência na utilização destes recursos, designadamente
nos primeiros anos de escolaridade.
Por outro lado, continuam a ser conhecidas
com demasiada frequência queixas relativas ao acesso a equipamentos por parte
dos alunos, à qualidade dos equipamentos, que, de acordo com os directores de
escolas e agrupamentos, a insuficiência dos recursos necessários à adequada
utilização dos equipamentos, nas escolas, mas em particular nas salas de aulas,
infra-estruturas eléctricas e rede de net eficientes, por exemplo. Acontece
ainda que existe uma enorme diversidade na literacia digital dos alunos.
Deste cenário, apesar do esforço
que vai ser realizado recorrendo ao apoio dos docentes de informática, podem
decorrer situações sérias de desigualdade entre escolas e entre alunos e todos
conhecemos múltiplas situações que evidenciam a enorme disparidade de recursos
e da sua utilização.
Acresce que, para além da
disparidade de recursos e competências e pensando sobretudo nos alunos do 1.º
ciclo ano, mas não esquecendo todos os outros, a aprendizagem da escrita e da
leitura, base de todas as aprendizagens, é realizada, e bem, com o recurso
predominante à escrita manual. Existem razões advindas da evidência, como agora
se diz, que sustentam este caminho. Assim sendo, a proficiência da escrita e realização em
formato digital será na esmagadora maioria dos alunos de natureza e nível
diferente o que pode contaminar os resultados.
O MECI já anunciou algumas
medidas que garante contrariarem este cenário. Já não consigo ser muito
optimista, para além de insistir em que a digitalização, nomeadamente no 1º
ciclo, é uma má opção como já disse acima.
Voltando ao início, sei que nem
sempre é fácil “fazer as coisas certas e fazer certas as coisas”, mas neste
caso não me parecia muito difícil.
Foi mesmo uma opção, uma má opção.
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