sábado, 12 de novembro de 2011

O TEMPO DA AZEITONA

Como ontem vos falei do começo da lida da azeitona aqui no Meu Alentejo, deixem-me abusar mais um pouco e voltar ao tema.
A apanha da azeitona pelo método tradicional é coisa brava, vá que não estava muito frio, embora a ventaneira não ajudasse. Os braços estão moídos de varejar e carregar mas impressionante mesmo, é ver a resistência do Velho Marrafa, homem de setenta anos e que ainda tem a gentileza e generosidade de me deixar trabalhar com a vara mais leve.
O velho Marrafa tem um entendimento que eu não me atrevo a discutir sobre a apanha da azeitona aqui no monte, isto é, ao mesmo tempo que se apanha a azeitona procede-se à limpeza das oliveiras. O resultado é que me transformo num agricultor em apuros, estendem-se os panos, colhe-se a azeitona numa catártica actividade de varejamento, corta-se o que há a cortar nas árvores com a motosserra, ensaca-se e carrega-se no tractor. Depois lá vamos a caminho do lagar para a pesagem e entrega. Para depois ficará tratar da lenha sobrante.
O tempo de espera no lagar passa-se nas lérias, hoje até apareceu um bagaço que aqueceu a espera. Os temas de conversa vão surgindo mas quase sempre, não podia deixar de ser, andaram à volta dos enleio e das molengas em que a vida da gente se transformou e da pouca rentabilidade que tanto trabalho dá.
Poisei há pouco, e para além da indignação dos trabalhadores da administração pública em Lisboa, nem sei muito bem o que se passou pelo mundo.
Sei apenas que o corpo não se cala a pedir descanso e eu a ver se ainda consigo olhar para os jornais de hoje.
Só lá para o fim de Janeiro, quando voltar ao lagar para buscar o azeite, com o ambiente quentinho das enormes salamandras que impede o azeite de coalhar e o cheirinho inconfundível do azeite novo é que me vou esquecer das agruras da apanha da azeitona que, aliás, ainda não terminou.
Prometo não me queixar mais.

1 comentário:

Anónimo disse...

"vira vento, muda a sorte
por aqueles olivais perdidos,
foi-se embora o vento norte"

Natal dos simples

Abraço
António Caroço