segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O INFERNO NA SALA DE AULA

Seguindo uma "moda" em vigor, aparecem hoje na imprensa mais umas imagens de comportamentos filmados em sala de aula e divulgados através dos meios do costume, o YouTube. As imagens não acrescentam ao que se conhece do funcionamento de algumas salas de aula em algumas escolas. Mais uma vez, creio que se justificam algumas notas, necessariamente breves, sobre este (às vezes) pesadíssimo universo, a sala de aula, e os comportamentos desajustados.
Permitir, por exemplo, que um telemóvel toque na sala de aula é indisciplina, insultar, humilhar, confrontar fisicamente uma professora é um comportamento pré-delinquente ou delinquente, donde importa, do meu ponto de vista, clarificar a análise. Por isso anda mal o Ministro Nuno Crato ao falar apressadamente de indiscplina e vejamos porquê.
A indisciplina escolar é matéria de competência da escola e matéria de responsabilidade de toda a comunidade, incluindo os pais, naturalmente, e todas as figuras com relevância social, por exemplo, não se riam, políticos e jogadores de futebol.
A pré-delinquência e delinquência entre crianças e jovens são um problema da comunidade de que a escola é PARTE da solução mas não A solução.
O Estatuto do Aluno, qualquer que seja, é um regulador, melhor ou pior, mas nunca A solução e, pela mesma razão, nunca A causa.
Todas as figuras sociais a que se colam traços de autoridade por exemplo, pais, professores, médicos, polícias, idosos, etc. viram alterada a representação social sobre esses traços. Dito de outra maneira, o facto de ser velho, polícia, professor ou médico, já não basta, só por si, para inibir comportamentos de desrespeito.
Do anterior resulta que, falar da restauração da autoridade dos professores, tal como era percebida há décadas, é uma impossibilidade porque os tempos mudaram e não voltam para trás. Pela mesma razão, não se fala em restaurar a relação pais – filhos nos termos em que se processava antigamente.
Uma professor ganha tanta mais autoridade quanto mais competente se sentir. A grande questão da avaliação dos professores deveria ser entendida como ferramenta do seu desenvolvimento profissional. É também importante reajustar a formação de professores. As escolas de formação de professores não podem “ensinar” só o que sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos novos professores e pelos professores em serviço. Problemas "novos" carecem também de abordagens "novas".
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto mais apoiado se sentir. O MEC não pode desenvolver políticas que socialmente deixem o professor desapoiado. As escolas devem poder usar a sua autonomia para desenvolver dispositivos de apoio, por exemplo, a existência de outros técnicos e a utilização regular de dois professores em sala de aula. Não é necessário aumentar o número de professores, é imprescindível que os recursos sejam geridos de outra maneira.
Escolas organizadas, com cultura institucional sólida traduzida na adequação e consistência dos seus projectos educativos e com lideranças eficazes são mais organizadoras dos comportamentos de quem nelas habita, como qualquer outra organização.
Os discursos demagógicos e populistas não são um bom serviço à minimização destes incidentes que minam a qualidade cívica da nossa vida.

1 comentário:

Mafalda S. disse...

Concordo em pleno com todas as sugestões apresentadas.