quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A SAGA DOS "DRS. DA MULA RUÇA"

Continua a narrativa das figuras menores que compõem os seus relevantes currículos com licenciaturas obtidas de forma enviesada, por assim dizer, recorrendo a manhosices frequentes no Portugal dos Pequeninos em que ser doutor ou engenheiro é frequentemente visto como uma condição necessária e importante para usar colada ao nome e passar a fazer parte da identidade.
Quando era miúdo ouvia com frequência uma expressão que era dirigida a quem se queria “armar” no que não era, chamavam-lhe “doutor da mula ruça”. É o caso destes “doutores da mula ruça”.
No ãmbito das mudanças verificadas no ensino superior e com base num princípio que me parece positivo estabeleceu-se a possibilidade do reconhecimento académico de competências profissionais. Provavelmente, não se imaginaria o recurso manhoso a este expediente e a cobertura dada a estes processos por muitas instituições de ensino superior. No entanto, é justo referir que também muitas delas e ainda antes da lei ser alterada fixaram máximos de unidades curriculares que poderiam ser feitas através da creditação de experiência profissional.
Como docente do ensino superior lamentei e lamento toda esta narrativa que retira credibilidade a um processo que não deveria levantar dúvidas e faz duvidar de um princípio que por si é importante, o reconhecimento pela academia de que existem saberes e competências que podem ser adquiridas fora da universidade/ensino poliécnico, mas trabalhando mesmo e fazendo prova desses saberes e competências.
Fico triste com esta situação mas não surpreendido, no fundo, como diria Miguel Torga, “a natureza humana é fraca”.

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