segunda-feira, 11 de setembro de 2017

NUNCA MAIS ME SAI O EUROMILHÕES

Ao que se lê na imprensa aumentou significativamente o investimento dos portugueses nos “jogos sociais” da Santa Casa. Este ano nos primeiros seis meses foi de 1,5 mil milhões de euros face a 1.359,6 milhões de euros em 2016 no primeiro semestre.
Apesar de alguma recuperação, as famílias continuam com rendimentos baixos mas as apostas nos “jogos sociais” aumentam.
Na verdade, o Totobola e depois o Euromilhões, o Totoloto e, posteriormente a Raspadinha estabeleceram-se firmemente na vida de muitos de nós e criaram mesmo uma imagem criadora de futuro que nos move, provavelmente e para muitas pessoas, a única imagem criadora de futuro.
Importa reconhecer que as imagens criadoras de futuro são imprescindíveis, tanto mais quando atravessamos tempos duros em que esperança também foi revista em baixa e ainda não recuperámos.
No que respeita ao Euromilhões, julgo poder afirmar-se que em muitos lares portugueses e hoje mais do que nunca, uma das frases mais ouvidas é “nunca mais me sai o Euromilhões, para deixar de trabalhar”. Muito provavelmente, cada um de nós já ouviu, pensou ou disse esta expressão alguma vez ou vezes. Creio também que não é usada apenas pelos cidadãos com maiores dificuldades.
Acho curiosa a sua utilização. Entendo, naturalmente, a ideia subjacente à primeira parte. Um prémio de valor substantivo representaria, seguramente, a hipótese de acesso a um patamar superior de bem-estar económico, desejado, naturalmente, por toda a gente. O que de facto me parece mais interessante é o complemento “para deixar de trabalhar”. É certo que nem todas as expressões devem ser entendidas no seu valor “facial”, mas é também verdade que a recorrente afirmação deste desejo acaba por ilustrar a relação que muitos de nós estabelecemos com o lado profissional da nossa vida, isto é, “quero livrar-me dele o mais depressa possível”. Não será grave, mas é um indicador que possibilita várias leituras.
Neste contexto sabem qual é a minha inquietação? É se os miúdos, considerando a agitação que vai pelo seu mundo “laboral” e os discursos dos adultos, desatam a pedir, se puderem, um aumento de mesada que lhes permita apostar no Euromilhões para … deixar de ir à escola.
Já estivemos mais longe.

2 comentários:

não sei quem sou... disse...

Os miúdos deixam de o ser aos 18 anos e as regras do euro milhões ditam que só a partir dessa idade lhes é permitido apostar. Mas o espírito do seu post tem o peso da verdade. No entanto penso que quando as pessoas dizem "deixava de trabalhar", o dizem porque é o politicamento correcto ou figura de estilo, a não ser que já estejam à porta da reforma laboral.

Mas os seus receios fazem todo o sentido.

não sei quem sou... disse...

Por distracção omiti o:



VIVA!