terça-feira, 27 de junho de 2017

OS TEMPOS DA ESCOLA

Foi divulgado no final da semana anterior o calendário escolar proposto para 2017/2018.
De relevante dois aspectos, um que é diferente do que se tem verificado e outro recorrente.
O primeiro aspecto é a equiparação do calendário da educação pré-escolar ao ensino básico e secundário. Parece-me normal do ponto de vista da actividade docente e os problemas eventualmente criados às famílias com crianças até aos 5 anos são semelhantes aos das famílias com crianças depois dos 5 anos. Pode discutir-se a questão do calendário e do seu ajustamento mas esta equiparação parece adequada.
O segundo aspecto, que é frequente, remete para mais um ano lectivo com enorme desequilíbrio na duração dos períodos escolares. O próximo ano terá um primeiro período extenso e um terceiro período mais uma vez curtíssimo até à entrada no período de avaliações.
Julgo e já o tenho afirmado que esta questão deveria ser repensada. Aliás, os tempos da escola justificariam ser globalmente repensados.
Se bem se recordam o blogue ComRegras promoveu há algum tempo um inquérito dirigido a directores de escolas e agrupamentos no qual 54.1% dos 181 directores que responderam concorda que o ano escolar seja organizado em dois semestres e não nos habituais três períodos de aulas.
Este dado vai no mesmo sentido de uma proposta da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas divulgada em Junho de 2016.
Como já tenho referido, não tenho uma posição fechada e fundamentada sobre as eventuais vantagens sendo certo que existem outros sistemas em que se verifica o modelo semestral.
No entanto, creio que mesmo numa organização em três períodos a situação que me suscita mais dúvidas é o desequilíbrio que frequentemente se verifica na duração dos períodos e que se repete de forma muito evidente no próximo ano lectivo.
Esta situação decorre do facto de a Páscoa ser uma festa móvel e ser sempre o fnal do 2º período. As alterações são significativas.
Dado que a interrupção da Páscoa marca o fim do 2º período e é uma data móvel as diferenças podem ser significativas.
Parece claro que esta situação não é a mais adequada.
Dada a tradição talvez não seja fácil, mudar nunca é fácil, fazer com o que o calendário escolar não esteja colado a festividades móveis.
Neste contexto, creio que vale a pena reflectir nestas matérias, ouvindo a participação dos vários actores, estudando experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma tranquila, oportuna no tempo, repensar o calendário escolar.
Nesta reflexão deveria estar incluída a discussão dos benefícios e eventuais efeitos negativos da criação de uma “pausa” a meio do primeiro período modelo existente em vários países. No próximo ano lectivo o primeiro período vai ser bastante extenso.
No entanto, de uma forma mais global creio que seria interessante reflectir sobre os tempos da escola olhando para outros aspectos.
Num país com as nossas condições climáticas, tal como genericamente no sul da Europa, e considerando boa parte do nosso parque escolar, aulas prolongadas até ao Verão seriam algo de, literalmente, sufocante.
A Confap tem defendido onze meses de actividade na escola. Sendo a guarda das crianças um problema sério e que reconheço, também entendo que não pode ser resolvido prolongando até ao “infinito”, a infeliz ideia de “Escola a Tempo Inteiro”, a estadia dos alunos na escola. A “overdose” é sempre algo de pouco saudável.
No que respeita aos tempos escolares, os alunos portugueses, sobretudo no início da escolaridade tem umas das mais elevadas cargas horárias. Como bem se sabe, mais horas de trabalho não significam melhor trabalho e os alunos portugueses já passam um tempo enorme na escola. Talvez seja de introduzir nesta equação a variável “áreas disciplinares e currículos”, considerando o número de áreas ou disciplinas, conteúdos, organização de anos e de ciclos, etc.
Neste contexto, creio que vale a pena reflectir com tempo e serenidade nestas matérias, semestres ou trimestres, por exemplo, com a participação dos vários actores, estudando experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma tranquila, oportuna no tempo, sustentada, repensar os tempos da escola.

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