segunda-feira, 19 de junho de 2017

EXAMES PARA QUE VOS QUERO

Sem estranheza, estamos em plena época alta, o Público trazia ontem um extenso trabalho sobre os exames do secundário criando um espaço de reflexão em torno da sua existência, modelo e função.
Creio que no contexto actual a existência de exames nacionais no ensino secundário parece-me justificada como forma de regulação advinda de uma avaliação externa associada à avaliação interna. No que respeita ao seu modelo creio que seria interessante, tal como algumas opiniões expressam, caminhar para modelos de exame mais integrados em matéria curricular e menos centrados em mobilização instrumental de conhecimentos e mais diversificados nos dispositivos e suportes.
A terceira questão, a função, é que me parece carecer de reflexão e mudança.
Contrariamente ao que se passa em muitos países os resultados dos exames têm um peso muito significativo no acesso ao ensino superior o que contamina e enviesa aquela que me parecer a sua função central. Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário. Não deveria ser mais do que isto.
Como tantas vezes tenho defendido, o acesso ao ensino superior é uma outra matéria que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar sob a sua tutela.
A situação existente, não permite qualquer intervenção consistente do ensino superior na admissão dos seus alunos, a não ser a pouco frequente definição de requisitos em alguns cursos, o que até torna estranha a passividade aparente por parte das universidades e politécnicos, instituições sempre tão defensoras da sua autonomia. Parece-me claro que o ensino superior fazendo o discurso da necessidade de intervir na selecção de quem o frequenta não está interessado na dimensão logística e processual envolvida.
Os resultados escolares do ensino secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar com outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
Sediar no ensino superior o processo de admissão minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do facto da média de conclusão do ensino secundário ser o único critério utilizado para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o “peso” das notas inflacionadas em diversas circunstâncias e tantas vezes divulgado. Minimizaria também a forma como é percebida pelos alunos a importância de todas as disciplinas do secundário sobrevalorizando, naturalmente, as disciplinas específicas relativamente ao curso a que pretendem aceder.
Será que se chegará a algum consenso sobre esta questão?

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