sexta-feira, 17 de abril de 2015

"OS MIÚDOS AGORA TÊM TUDO"

Quando em algumas circunstâncias nos referimos a problemas ou dificuldades que a vida coloca à generalidade dos miúdos é muito frequente ouvirem-se algumas vozes ou discursos do tipo “eu também passei muito e estou aqui”, “também passei por isso e fez-me crescer”, “agora acham tudo tem de ser fácil para os miúdos”, “no meu tempo é que tínhamos problemas”, “os miúdos agora têm tudo”, “agora não lhes falta nada”, etc., etc.
Confesso que embora, em algumas circunstâncias, compreenda  estes discursos tenho alguma dificuldade em aceitar e, por vezes, reajo.
Com a idade e com a lida permanente nesta área tenho vindo a acompanhar a vida dos mais novos, da generalidade dos miúdos. Ontem, tal como hoje e amanhã, existem crianças que viveram, vivem e viverão em condições muito adversas.
Alguns sobreviveram, sobrevivem e sobreviverão. No entanto, sobreviver não significa, necessariamente, viver bem.
Esta minha nota nem sequer se dirige a situações extremas que regularmente são do nosso conhecimento, como nos últimos dias ocorreram, estou a pensar na generalidade dos miúdos e nas suas condições de vida que, do meu ponto de vista, não são tão fáceis como muitas vezes se afirma.
Estilos de vida e condições familiares pouco amigáveis, pobreza e privação, uma escola que nem sempre é cuidadora e um espaço positivo de crescimento e aprendizagem, criam dificuldades que nem sempre são devidamente valorizadas.
Aliás, num tempo em mais do que nunca se produzem discursos sobre os miúdos e o seu mundo ainda não somos suficientemente atentos ao que é a vida deles
Digo eu.

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