domingo, 12 de abril de 2015

UM HISTÓRIA DE POLÍCIAS E LADRÕES

Existirá certamente algo que desconheço mas confesso alguma dificuldade em compreender muitos dos discursos das pessoas lesadas no chamado caso do "papel comercial" do BES bem como a abordagem de boa parte da imprensa a este tipo de situações, incluindo casos como o BPN ou BPP.
Em primeiro lugar parece-me razoavelmente claro, refiro o caso do BES, que muitos dos que foram lesados terão sido vítimas de discursos ardilosos ou publicidade enganosa, no mínimo, para serem induzidos a permitir que as suas poupanças fossem canalizadas para fundos com capital não garantido. Algumas destas pessoas perderam as suas poupanças e sentem-se desesperadas, roubadas, sem nada, sem expectativas de futuro e daí a sua revolta, que se compreende e a solidariedade e apoio que merecem.
Algumas outras terão sido vítimas do seu próprio interesse em aproveitar a onda especulativa de investimentos e aceder a rendimentos que os depósitos a prazo não garantiam.
Dito isto acho estranho que todos os discursos que oiço se voltem de forma exacerbada contra o Banco de Portugal, em particular contra o Governador Carlos Costa. Ainda há pouco tempo ouvia o treinador de futebol Carlos Queiroz a vociferar indignado contra Carlos Costa pela perda dos seus 700 000 euros no BES do Dubai.
Na verdade, não é de agora, lembremo-nos de Vítor Constâncio e da sua sonolenta regulação que permitiu o BPN e outros negócios como o BPP, que a regulação do Banco de Portugal parece ser pouco eficaz e interveniente. Também é verdade que algumas intervenções de Cavaco Silva e Passos Coelho vieram transmitir confiança num tempo em que tal já não seria possível pelo que se sabia ou intuía.
No entanto, continuo a pensar que a grande responsabilidade desta situação é da administração e responsáveis das instituições bancárias envolvidas. No caso mais recente do BES parece claro que a liderança do Dr. Ricardo Salgado, através de um conjunto de habilidades, cumplicidades e fraudes, montou uma situação que resultou neste descalabro.
Recordemos a notícia recente dos negócios do BES com o amigo generoso de Ricardo Salgado, o tal José Guilherme, que lhe ofereceu uma prenda, uma "liberalidade", de 14 milhões de euros e que agora anda a tentar reestruturar a sua dívida para com o BES.
De facto, os Donos Disto Tudo são, evidentemente, os Culpados Disto Tudo.
Como já tem sido referido, estranhamente, as pessoas roubadas e revoltadas em vez de protestar e se indignar contra o ladrão protestam contra o polícia que, apesar de poder ter feito melhor o seu trabalho, não é o criminoso.
Fico com a sensação que os Donos Disto Tudo continuam a ser ... os Donos Disto Tudo pois parece que as pessoas ainda têm medo de dizer que "o rei vai nu", ou seja, que foram roubadas por Ricardo Salgado, pelas demais famílias e respectivas redes.
Aliás, tenho para mim, que num país com menos brandos "costumes legais" e um sistema de justiça que, de facto, o seja, Ricardo Salgado e outros “artistas” não estariam a responder numa Comissão Parlamentar mas sim nos Tribunais ou detidos.
Querem adivinhar como Isto Tudo vai acabar?
Eu acho que PIT - Pagamos nós Isto Tudo.

Sem comentários: