terça-feira, 7 de agosto de 2012

DESESPERANÇA, ACOMODAÇÃO OU REVOLTA? Deixe lá ver

O Público de hoje aborda uma questão interessante, a forma como a classe docente está, ou vai, reagir ao desconforto e consequências, por assim dizer, que a PEC - Política Educativa em Curso tem no seu universo profissional. Na peça levantam-se algumas questões interessantes, algumas das quais temos abordado no Atenta Inquietude.
As decisões políticas terão, sobretudo a partir do momento em que termine o processo de colocação de docentes, consequências devastadoras do ponto de vista do emprego pois, creio, que a maior parte dos docentes contratados irá ficar sem colocação e mesmo muito gente do quadro verá as condições de vida e estabilidade alteradas.
O trabalho reflecte uma aparente acalmia entre a classe que relaciona com o eventual peso decrescente das estruturas sindicais, que, do meu ponto de vista, em muitas circunstâncias são parte do problema e não parte da solução, com uma contenção decorrente da perplexidade causada pelas políticas determinadas por Nuno Crato que, diz-se, terá entrado no MEC com um capital de expectativa positiva que, pessoalmente, nunca me pareceu sólido e manifestei em tempo as maiores reservas sobre o que era conhecido do seu pensamento sobre política educativa.
O trabalho jornalístico sublinha ainda o papel que a net através das redes sociais e blogues tem, ou terá, no acolhimento e potenciação do descontentamento os professores, sobretudo e naturalmente, após o período de férias.
Na verdade, se compararmos com a mobilização histórica de 2008 que, curiosamente ocorreu em 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, em que mais de 100 000 professores, na sua maioria mulheres, se juntaram em protesto contra a política liderada por uma mulher, Maria de Lourdes Rodrigues, os tempos actuais parecem de uma estranha acalmia, quando, creio, tudo o que está em jogo não é menos substantivo. Na verdade, para além de questões essenciais de natureza mais profissional, existem múltiplos aspectos inquietantes no caminho que tem vindo a ser percorrido e que se anuncia.
No entanto, do meu ponto de vista, na legislatura anterior o cenário era razoavelmente diferente, as decisões incompetentes e arrogantes da equipa ministerial faziam acreditar, pela sua própria inconsistência, que a mudança poderia ser possível.
Actualmente, no clima social, político e económico instalado, a percepção social da possibilidade de mudança parece bem mais frágil, bem mais desesperada, pelo que o desânimo e a desesperança parecem mais presentes, sugerindo, por outro lado, o risco de discursos, atitudes e comportamentos, mais crispados e reactivos como a história dos movimentos socais autoriza a pensar.
Neste contexto, creio que poderá emergir uma movimentação e organização dos professores mais ao largo das estruturas sindicais, assente na contestação de aspectos gravosos da PEC - Política Educativa em Curso e na defesa da Escola Pública o que me parece interessante.
Na verdade, creio que seria fundamental uma posição forte dos professores sobre as matérias da educação, fora das decisões da agenda das estruturas sindicais e das diversas lideranças políticas, no governo ou na oposição, que se inscrevem, por sua vez, na gestão dos interesses político-partidários da partidocracia.
Creio que a manifestação de Março de 2008 foi um primeiro grande exemplo de uma reacção dos professores que extravasou a esfera de influência das estruturas sindicais.
Como diz o Velho Marrafa lá no Meu Alentejo, deixe lá ver.

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