terça-feira, 21 de agosto de 2012

RECUSO SER O PAI

Um investigador da Universidade do Minho na área dos direitos humanos, levanta a pertinente questão de, por razões justamente no âmbito da igualdade de direitos, um homem poder recusar a paternidade de um filho não desejado. O investigador argumenta, "Do mesmo modo que a mulher tem o direito legalmente reconhecido de abortar ou não abortar, perante uma gravidez não planeada, o homem deve poder decidir se quer ou não ser pai".
Por outro lado, de acordo com o edifício legislativo português, se os testes de ADN identificarem a paternidade, mesmo numa situação de gravidez não desejada, o pai é obrigado a perfilhar a criança, criando-se o que o investigador designa por uma "geração de pais à força",
No que respeita à criança, o cientista sustenta que "um sistema que permite o não nascimento por via de um aborto também pode permitir o nascimento sem atribuição da filiação paterna".
A questão é de facto muito interessante e complexa. Parece-me claro que no plano formal e da definição jurídica dos direitos  na igualdade de direitos e género, é uma matéria que merece uma reflexão cuidada.
No entanto, do ponto de vista ético e dos interesses da criança a questão pode ser mais, ainda mais, complexa.
Em primeiro lugar, creio que se pode correr o risco de instituir um quadro legal que desresponsabilize a assunção da paternidade. Se considerarmos que em Portugal ainda temos um número significativo de gravidez em adolescentes, pode acontecer que com maior facilidade o pai, muitas vezes outro adolescente, de desresponsabilize de algo que não pode, não deve, ser encarado com ligeireza, a paternidade. A relação sexual não visava a gravidez, a criança não foi, portanto, desejada, logo que não tem que a reconhecer. Merece, creio, reflexão.
Do ponto de vista dos miúdos parece-me importante a questão da família e da sua inscrição num contexto familiar que, assim o entendo, pode ser variado, mãe e pai, dois pais, duas mães ou, é verdade, só pai ou só mãe. No entanto, a tipologia da família deve decorrer, creio, da decisão dos próprios e das diferentes circunstâncias de vida e não de um "não me apetece" ser pai pelo que recuso assumir a paternidade, mesmo que não tenha que assumir vida familiar.
Como disse, trata-se de uma situação complexa que não pode ser dirimida num plano exclusivamente jurídico.

5 comentários:

Anónimo disse...

Bem sei que o Professor é mais moderno do que eu e a minha cabeça é mais velha do que a sua, mas de facto na minha prática clínica e não só, cada vez estou mais convencido que uma criança precisa de um bom pai e de uma boa mãe.

A interrupção voluntária da gravidez é uma decisão da mulher, que pode ouvir ou não pai, mas a decisão final é sua, o corpo é seu.

Quanto ao investigador da Universidade do Minho, o seu estudo, na minha opinião entra claramente no Reino da Patetice. A igualdade de direitos e oportunidades não se faz por aí.

Então a criança não tem direito aos bens materiais do pai? e os Avós? Pode o pai fartar-se da criança quando ela for jovem e chegar sempre tarde a casa e dizer: já não quero ser teu pai.

Parece-me que algumas pessoas confundem igualdade de direitos e oportunidades com igualdade de género.

O Investigador terá filhos? Tem concerteza pai, porque não estou a ver o Espírito Santo voltar com a Troika cá.

Entretando fico muito espantado com a universidade do Minho e as suas peregrinas investigações.

Abraço
António Caroço

Anónimo disse...

Que uma criança precisa dum bom pai e duma boa mãe é indiscutível.
Achar que isso pode acontecer "por decreto" ou é ingenuidade ou é -isso sim- patetice.

Hoje em dia há centenas, milhares de pais que não o são de facto, são apenas caixas multibanco.
A criança tem direito aos bens materiais dos pais? Tem sim, a mãe é que não.

Há vários caminhos que se podem tomar por forma a dar ao homem alguns direitos. Retirar-se por completo do papel de progenitor? Não, isso não, a criança tem, no mínimo, o direito a saber quem são os seus pais.
Mas limitar o que a mulher pode exigir do homem como consequência duma decisão que tomou sozinha? Sim, isso sim.

Se este é o caminho único a seguir? De forma alguma. Se tivéssemos uma educação sexual, nas escolas, digna desse nome, provavelmente não estaríamos hoje a discutir abortos e recusas de paternidade.

Estamos agrilhoados por uma mentalidade retrógrada que se recusa "expor" as nossas crianças a temas como a sexualidade -pobres crianças, traumatizadas que ficariam por entrar em contacto com tal tema!- mas é preferível ter adolescentes e adultos irresponsáveis e obriga-los a ser uma "família".

Apenas um reparo ao comentário do Sr. António. Com o devido respeito, a frase "Pode o pai fartar-se da criança quando ela for jovem e chegar sempre tarde a casa e dizer: já não quero ser teu pai." é completamente inadequada e não tem nada a ver com a questão levantada pelo investigador.

A tese fala sobre o levar a termo ou não uma gravidez.

Esta não é uma questão peregrina, é muitíssimo pertinente. O ser "pai à força" pode não ser um flagelo como o era o aborto clandestino mas é, com toda a certeza, algo que merece reflexão e investigação.

Abraços
Vladimiro Ferreira

Zé Morgado disse...

Meus caros António e Vladimiro. Continuo a entender que a questão levantada é pertinente mas, contrariamente ao investigador da U. Minho, não entendo que ela possa ser analisada isoladamente no plano formal das questões jurídicas de igualdade de direitos e género. Por isso coloquei outras questões como ética, interesse dos miúdos, responsabilidade individual, etc.
Um agradecimento pelo contributo

JPN disse...

Há aqui qualquer coisa muito perversa mesmo se enquadrada por uma racionalidade e um processo de produção de conhecimento. Não posso discutir uma tese pelo cabeçalho de um jornal, mas pode haver aqui uma distorção grosseira na realidade. A possibilidade de interromper uma gravidez não é apenas o direito da mulher, é também dos dois progenitores. Quanto à possibilidade da mulher interromper uma gravidez, ela não resulta de nenhum privilégio mas da situação particular da mulher na gravidez. Tornar igual o que é naturalmente desigual é um absurdo. O paralelismo entre uma situação e a outra é uma comparação grosseira e sem sentido (e que se aproxima, involuntariamente, daquele revanchismo idiota que assalta muitos casais que se vingam na criança do outro progenitor). Senão vejamos: se o homem pudesse ter uma igualdade em relação à mulher ela aconteceria não por ele poder negar a paternidade mas por ele poder ter ou não ter a criança que a mulher quisesse ter. Sobre o primeiro aspecto a natureza se encarregou de responder, ele não pode em caso algum ser hospedeiro do desenvolvimento harmonioso do feto. Sobre o segundo aspecto, a discussão sobre isso está aberta e parecerá razoável que o homem possa também ter uma palavra a dizer sobre o facto de uma mulher poder ter de interromper uma gravidez não desejada, sendo que esta discussão deverá estar limitada por uma outra circunstância: a possibilidade da interrupção da gravidez colocar problemas de saúde á progenitora. Da mesma forma será interessante seguir o debate sobre se, nestas circunstâncias, em que a mulher, sem ser por razões que tenham a ver com a sua saúde, resolva ter a criança, o homem deve ou não poder negar a partilha do poder paternal com a progenitora, incluindo as responsabilidades pelo sustento, educação e saúde da criança? Eu inclinar-me-ia para a resposta positiva. Agora a recusa em viver a sua condição de pai, que é um privilégio que tantos homens não exercem, não se pode nunca confundir com o direito do filho poder saber quem é o seu pai e a sua mãe. Quando direitos mais avançados de cada um chocam com direitos básicos e fundamentais da Pessoa, esse conflito de interesses deve, quanto a mim, ser decidido a favor do segundo. A sociedade será mais evoluída quando procede a uma especialização e actualização do seu edifício jurídico no sentido de o adaptar á evolução do tempo. mas não pode haver nenhuma evolução da sociedade quando se sacrificam condições essenciais ao bom desenvolvimento da Pessoa.

umquarentao disse...

UMA QUESTÃO A LEVANTAR:
- O Direito de ter filhos em Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas!


Ainda há parolos que acreditam em histórias da carochinha... mas há que ASSUMIR a realidade:
- Nas Sociedades Tradicionalmente Poligâmicas apenas os machos mais fortes é que possuem filhos.
- No entanto, para conseguirem sobreviver, muitas sociedades tiveram necessidade de mobilizar/motivar os machos mais fracos no sentido de eles se interessarem/lutarem pela preservação da sua Identidade!... De facto, analisando o Tabú-Sexo (nas Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas) chegamos à conclusão de que o verdadeiro objectivo do Tabú-Sexo era proceder à integração social dos machos sexualmente mais fracos; Ver http://tabusexo.blogspot.com/.


CONCLUINDO:
- Nas Sociedades Tradicionalmente Poligâmicas é natural que sejam apenas os machos mais fortes a terem filhos, NO ENTANTO, as Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas têm de assumir a sua História: não podem continuar a tratar os machos sexualmente mais fracos como sendo o caixote do lixo da sociedade!... Assim sendo, nestas sociedades deve ser possibilitada a existência de barrigas de aluguer {ÚTEROS ARTIFICIAIS – deve ser considerado uma Investigação Cientifica Prioritária!…} para que, nestas sociedades {a longo prazo} os machos (de boa saúde) rejeitados pelas fêmeas, possam ter filhos!


NOTA 1: Incompetência sexual não significa inutilidade... de facto, os machos mais fracos já mostraram o seu valor: as sociedades tecnologicamente mais evoluídas... são sociedades tradicionalmente monogâmicas!


NOTA 2: Hoje em dia, por um lado, muitas mulheres vão à procura de machos de maior competência sexual, nomeadamente, machos oriundos de sociedades tradicionalmente Poligâmicas: nestas sociedades apenas os machos mais fortes é que possuem filhos, logo, seleccionam e apuram a qualidade dos machos.
Por outro lado, hoje em dia muitos machos das sociedades tradicionalmente Monogâmicas vão à procura de fêmeas Economicamente Fragilizadas [mais dóceis] oriundas de outras sociedades...