quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O CARRO VASSOURA

Quando era miúdo a caravana da Volta a Portugal em bicicleta passava à beira da minha terra. Era dia de romaria, ia-se cedo para encontrar o melhor local de visão e o melhor acesso aos brindes distribuídos pela "carros dos anúncios", como lhes chamávamos.
A passagem da caravana era breve e marcada pela tentativa de saber se à frente passava um ciclista do Sporting, João Roque, Firmino Bernardino ou o incontornável Joaquim Agostinho ou, claro, do Benfica, Américo Silva ou Peixoto Alves, por exemplo. O segundo grande momento era a passagem, antes dos ciclistas, dos "carros dos anúncios" e a distribuição de ninharias cuja caça era uma tarefa complicada mas um desafio irresistível. O terceiro momento mais aguardado era a passagem do carro-vassoura que nos deixava sempre um pouco a pensar e a discutir entre nós como deveria ser difícil desistir, não poder seguir com os outros, e ser recolhido numa viatura com o "simpático" nome de carro-vassoura. Quase sempre chegávamos à conclusão que um ciclista deveria mesmo sentir-se mal quando nele entrava, o que nos fazia ter "respeito", como dizíamos, pelo carro-vassoura.
Com esta lembrança acesa estava a pensar nos miúdos que vão entrando na escola e que, de mansinho, mais cedo ou mais tarde, por uma razão ou por outra, começam a não ser capazes de acompanhar os outros e vão acabando, também eles, por entrar nos diferentes carros-vassoura que a vida vai pondo à frente dos que não acompanham o ritmo, seja ele qual for.
O problema é que, contrariamente ao que se passava no carro-vassoura da Volta a Portugal de onde se saía no fim de cada corrida para iniciar a próxima, muitos dos miúdos vão passar boa parte da sua vida nalgum carro-vassoura.

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