segunda-feira, 16 de agosto de 2010

UM PAÍS "UM BOCADINHO DESCONTROLADO"

A imprensa de hoje faz-se eco de uma série de questões de natureza diferenciada mas relacionáveis. A ver se explico.
No Público refere-se o aumento brutal das dívidas dos hospitais à indústria farmacêutica. Não se estranhando pois é habitual o atraso do estado no pagamento a fornecedores, o Presidente da Associação dos Administradores Hospitalares confirma que o crescimento da dívida está "um bocadinho descontrolado". Fiquei perplexo, o representante dos administradores dos hospitais entende e confirma que o seu trabalho de gestão tem efeitos "um bocadinho descontrolados". E não acontece nada.
Pelo DN ficamos a saber que as entidades que têm competências de fiscalização e inspecção têm falta de meios. É referido, a título de exemplo e a propósito do drama na clínica de Lagoa, que os serviços de inspecção na área da saúde têm dez vezes menos pessoal do que deveriam e gasta 22 vezes menos que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Na mesma linha o Público aborda a questão do combate aos falsos recibos verdes e refere-se que a Autoridade para as Condições do Trabalho vê o seu funcionamento comprometido por dificuldades criadas pela própria lei.
Num país em que por prática, cultura e valores instalados a lei raramente é entendida como imperativa, ou seja, as leis são apenas "indicativas", serviços de inspecção e fiscalização são absolutamente essenciais para a protecção individual. No entanto, sabemos também que mesmo com as inspecções e fiscalização ainda temos o recurso ao "não se pode dar um jeitinho" tão familiar.
É verdade que poderemos ter mais meios de fiscalização e inspecção mas a tranquilidade, diria impunidade, com que um administrador hospitalar entende que as suas dívidas estão "um bocadinho descontroladas" tem um significado que embaraça.

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