terça-feira, 24 de agosto de 2010

A RENTRÉE

Hoje teve início a minha rentrée, sim, porque eu também passo por uma rentrée. A minha é marcada pela chegada da primeira água no final de Agosto, princípio de Setembro, conforme as decisões do tempo.
A primeira água, levezinha como é de esperar, chegou, felizmente comigo na corrida pelo Parque da Paz. Por isso, notei melhor o começo da rentrée. A chuva faz libertar o perfume da terra. O cheiro a terra molhada, como dizia o Mestre Almada Negreiros, é retemperador. Mas liberta-se também o perfume a eucalipto e a estevas que me faziam sentir com mais força e ânimo sempre que passava naquele morro com um enorme eucalipto e uma mancha grande de estevas. Orvalhado pela chuva, mesmo leve, o cenário já não tem a mesma cor, diz que o Verão está a pôr-se.
A rentrée trazida pelas águas é mesmo a sério, começa outro ciclo, outra vida, outro verde, outra terra, outro frio lá mais para a frente.
Era bom que as rentrées de que todos falam assim acontecessem, com algo de novo. Lamentavelmente já começam velhas, velhas como os que nelas actuam, velhas como as promessas ou as falas que nelas se ouvem, velhas como a desconfiança e a indiferença que nos pesam e a desesperança que nos inquieta.
Vou sair, a pé, à chuva, ainda é quente e macia a primeira a chegar. É assim a minha rentrée.

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