sexta-feira, 13 de março de 2009

JÁ UM TIPO NÃO PODE TER O HÁBITO PESSOAL DE SE MATAR

Numa pequena peça na RTP sobre a aprovação na Assembleia da República de legislação obrigando à redução da quantidade de sal no pão, ouvi esse vulto imenso da política portuguesa a Dra. Teresa Caeiro manifestar-se muito preocupada com “a intromissão directa num hábito pessoal”. E a senhora questionava-se, onde irá parar esta intromissão, legisla-se a cafeína presente no café?, limita-se o açúcar na doçaria portuguesa?, etc. Na mesma linha aparecem comentários on-line e nos blogues no mínimo curiosos. Não ouvi este pessoal manifestar-se contra a necessidade de regular a velocidade a que se deve circular em automóvel, é uma intromissão no hábito pessoal que eu tenho de conduzir nos limites, porque tenho uma carro que até se estraga de andar a 120 na auto-estrada. Também não os ouvi muito preocupados com a intromissão no meu hábito pessoal de mandar fumo do meu cachimbo para cima da sopa da Dra. Teresa Caeiro. Também não percebo como não se manifestam contra a intromissão no hábito pessoal de deixarmos o carrinho em cima dos passeios, é certo que com o cuidado de reservar espaço para o peão passar. Também não vi a Dra. Teresa Caeiro preocupada com a intromissão directa no meu hábito de mandar abaixo uns charros, ela até acha que devo ser preso, etc. etc. É sabido que este hábito pessoal (convém esclarecer que fabricar pão com o dobro do sal aceitável em termos de saúde, nem sequer é um “hábito pessoal”) é causa directa de problemas graves de saúde que, obviamente, não têm só custos individuais, antes pelo contrário. Legislar de forma equilibrada a protecção do cidadão, não é uma necessidade, é um dever. O resto é o hipócrita folclore habitual do contrismo político.

11 comentários:

j. manuel cordeiro disse...

Quando compra pão alguém lhe aponta uma pistola para o obrigar a não comprar pão sem sal? É que este existe para quem o quiser comprar.

j. manuel cordeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
j. manuel cordeiro disse...

Em todo o caso, ao comparar a regulação da velocidade do automóvel com a lei sobre o sal no pão, o senhor parece não ser capaz de destingir entre um acto que coloca a vida de outrém em risco e um outro que só diz respeito ao próprio individuo.

Zé Morgado disse...

Não amigo Fliscorno, a questão é que há putos pequenos a quem os papás arranjam diabetes tipo II porque o pão que nos servem tem um veneno em excesso chamado sal. Por outro lado, se eu for só na auto-estrada, sem colocar em perigo terceiros, a regulação social continua a existir. Esse entendimento excessivo e fundamentalista do que se entendem ser liberdades individuais é um discurso bonito, mas há muita gente a sofrer.

cumprimentos

O noivo Titus disse...

Meu caro, é a primeira vez que comento o seu blog, blog esse que acompanho só há uma ou duas semanas, a conselho de uma amiga e ainda bem que me tornei seu "cliente assiduo".

Mas neste texto nao estou de acordo consigo.

Acho que comparar o pao com o tabaco ou com a velocidade nas auto-estradas nao faz sentido.

O tabaco e a velocidade foram no sentido da saude e bem estar geral, e mesmo que vá sozinho na auto-estrada, a lei nao pode mudar consoante vá sozinho no carro e na estrada, ou nao.

As leis têm que tentar abrangir o maior numero de excepcoes possiveis mas o seu exemplo nao é possivel.

Estou de acordo que se o pao tem sal a mais, que seja posto à venda a alternativa ou que os avisos do teor em sal sejam feitos (tal como foi feito nos maços de tabaco).

Tal como a Dra Teresa Caeiro disse, a seguir ia-se mudar a cafeina nos cafes, o açucar nos bolos, o açucar nos refrigerantes?

As pessoas têm que ser independentes, comem o que querem e compram o que querem (e o que podem dentro das suas possibilidades), da mesma maneira que so fuma quem quer e quem nao quer apanhar com o fumo, tem que ter o direito de nao o apanhar.

Cada um tem a sua opiniao e decidi partilhar a minha. Aceito que nao concorde com ela.

Cumprimentos

Unknown disse...

Pois 'ê cá góste de pão com sali', e manteiga com sal, e mais uma catrefada de coisas que o meu médico - homem sabedor destas coisas da saúde - diz, com aquele ar seguro que o caracteriza, que é bom que eu ingira... porque assim continuo a visitá-lo!

Mas isto preocupa-me!

É que se por um lado pode ser que um dia reduzam os níveis de nicotina no tabaco, por outro lado assusta-me o que possam fazer à mini da Sagres!!

Se eles se atrevem a mexer na mini...
Ai se eles se atrevem...

Zé Morgado disse...

Caro Al-T, seja bem vindo. Aminha posição de princípio não é diferente da sua. A questão como já escrevi noutro comentário, é que exsitem demasiados miúdos afectados por diabete II por comerem sal a mais e alimentos hipercalóricos e não adianta dizer, que eles são auto-determinados como eu e você porque não são, comem o que os papás, como eles, lhes pôem à frente. Assim, continuo a pensar que legislar, sem fundamentalismos, no sentido de proteger a saúde pública não é errado, mas, naturalmente, é apenas uma opinião.

1 abraço

O noivo Titus disse...

Meu caro, obrigado pela sua resposta e interesse na minha opiniao.

Eu nao sou médico nem nutricionista, mas acha que se o sal diminuir nos paes é que as crianças vao ficar mais saudaveis?

Tenho um irmao de 22 anos que quando tem fome, entre refeiçoes, só come bolachas, "bolicaos", chocolates e coisas do genero. Porque é preguiçoso demais para preparar uma torrada ou uma tosta.

Tenho outro, de 6 anos, que come o que lhe puserem à frente, por isso o pao poderia ser malefico, mas o sumo/coca cola, a maionese e o ketchup, os gelados/bolachas, nao lhe farao pior que o pao que come ao fim do dia, antes de ir dormir?

Acho que há coisas muito piores, que damos aos miudos por serem mais faceis de preparar, do que a quantidade de sal no pao.

Vi há algumas horas noutro blog (ja nao lhe sei dizer qual) que a quantidade de sal num pacote de batatas fritas era o equivalente a 32 paes (salvo o erro, mas tenho quase a certeza que era esta ordem de grandeza)...

Será o pao o inimigo a abater? Nao sera melhor manter o pao saboroso, mesmo com sal a mais, de maneira a tentar afastar as pessoas da comida fácil, que vem em pacotes de abrir e engolir?

Cumprimentos

Zé Morgado disse...

Meu caro Al-t, Creio que saberá que está a ser preparada legislação que impeça a publicidade a alimentos como os que cita dirigida a crianças. (voltamos ao mesmo, a proibição). Há algum tempo atrás vi um pai a fornecer o pequeno almoço a um miúdo de 9/10 anos, 3 salgados e uma cola. O que é certo é que temos um gravíssimo problema de obesidade e saúde pública com os mais novos. Eu até convivo bem com a minha hipertensão, comprimidinho diário, pouco sal, pouca gordura, mas os putos a sofre já? Esta é que é a difícil questão que temos.

1 abraço

Anónimo disse...

Nós somos mesmo assim! Faz parte da nossa identidade social e cultural! Prendemo-nos em pequenas questões e as questões de fundo ficam na gaveta. Esta celeuma acerca do sal no pão nem sequer tem razão de existir. Não tem que ver com liberdades pessoais, mas sim com uma das funções do Estado, que é precisamente zelar pelo "povo". Parece-me uma medida completamente inofensiva à liberdade individual, e também concordo que é uma boa medida de zelo em relação aos "putos" - os eternos esquecidos nas discussões. Penso que deveríamos guardar as nossas energias para fazer face a questões bem mais importantes, mas esta é só mais uma humilde opinião.
Cumprimentos a todos.
Ana

j. manuel cordeiro disse...

Não estou tão certo que seja uma questão superficial.

Pessoalmente, dispenso de bom grado o estado que tome conta de mim ou que, ainda pior, decida por mim. Não preciso de ser tratado por imbecil.

Saúde pública? Estarei a infectar alguém por causa dos meus hábitos alimentares?

Essencialmente, a maior razão para repudiar esta e outras medidas moralistas está bem representada no Admirável Mundo Novo.

Mais, o estado tem um peso cada vez maior na vida das pessoas, seja na vida privada seja na vida económica (nesta vai nos 50% do PIB!). Mas o que é o "estado"? Somos nós? Seremos mesmo? Não. É, antes, o somatório dos nossos impostos com o o poder concentrado nuns poucos que os gerem.

Quanto menos estado menos poder terão os governantes e, consequentemente, menos capacidade de prejudicar as pessoas terão.