terça-feira, 12 de junho de 2012

CÁ VAMOS... CORTANDO, CORTANDO, CORTANDO,

A PEC - Política Educativa em Curso tem como um dos seus eixos fundamentais o "corte", ou seja, corta-se o que se puder, onde se puder, até onde se puder. Corta-se nas pessoas, por exemplo professores, técnicos e auxiliares, corta-se nos recursos, horas e materiais, corta-se nos apoios, etc., etc.
Hoje tocou a vez de se anunciar o corte nos montantes das bolsas para estudos pós-graduados no estrangeiro o que envolve, fundamentalmente, apoios a programas de doutoramento em universidades estrangeiras.
Tudo isto é notável e um bom exemplo da deriva em matéria de política educativa.
Todas as orientações internacionais se direccionam para o investimento na educação como factor de desenvolvimento. Todas as orientações em matéria de desenvolvimento no ensino superior se direccionam para a imperiosa necessidade de um esforço de internacionalização de que a graduação realizada fora seria uma boa ferramenta.
Um dos critérios de avaliação do ensino superior, em Portugal ou em qualquer parte do mundo mais desenvolvido, é justamente o nível de internacionalização e a mobilidade, quer de estudantes, quer de professores.
Curiosamente, em 11 de Maio, cito o jornal I, "o ministro da Educação, Nuno Crato, saudou hoje o aumento de estudantes portugueses inscritos no programa ERASMUS, lamentando as desistências e garantindo que o governo está a trabalhar para que o valor das bolsas aumente. Na mesma altura, Nuno Crato lembrou que "está previsto um aumento de verbas" para o programa e que "Estamos a fazer a nossa pressão e a trabalhar com os outros países membros para haver um incremento do valor médio da bolsa de ERASMUS".
Como pode verificar-se temos mais um bom exemplo da coerência da PEC - Política Educativa em Curso.
Quando se fala na formação superior ou, mais em particular a formação pós-graduada, as dificuldades dos estudantes e famílias são frequentemente consideradas de forma ligeira ou mesmo desvalorizadas. Tal entendimento parece assentar na ideia de que a formação de nível superior é um luxo, um bem supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro não tem vícios, muito menos para doutoramentos no estrangeiro.
Acontece que, para além dos reflexos óbvio nos projectos de vida individuais, o investimento na formação e qualificação é uma ferramenta de desenvolvimento indiscutível hoje em dia como sublinham as orientações internacionais que referi acima.
Por outro lado, dados os custos dessa formação e conhecendo o tecido social e cultural português, longe obviamente dos modelos americanos que alguns defendem, temo que esta entrega às leis do mercado e às capacidades das famílias, alimentem algo que é, ainda, uma característica do sistema educativo português e que os relatórios internacionais reconhecem, o baixo impacto da educação na mobilidade social. Dito de outra maneira, os indivíduos com origem em grupos sociais mais favorecidos são os que tendencialmente obtêm melhores níveis de qualificação e repete-se o ciclo. Neste quadro, importa também considerar o abaixamento dos investimentos nas bolsas, as dificuldades enormes das famílias e o desemprego mais elevado entre os jovens que poderia constituir uma pressão para continuar os estudos mas que as elevadas propinas tornam mais difícil.
Quando se espera e entende que a minimização das assimetrias possa, também, depender da educação e qualificação, o seu preço, longe a favorecer, alimenta-a.

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