sábado, 20 de dezembro de 2025

A GENEROSIDADE DAS OLIVEIRAS

 Chegou o frio ao Alentejo e anuncia-se a chuva lá mais para o fim da tarde. Está um tempo cabaneiro que convida estar na cabana ao lume. Eu aceitei o convite, estou de volta destas notas com um olho na chama da salamandra e como sabe bem esta companhia.

Nos tempos crispados e duros em que todos os dias conhecemos as dificuldades que modelos de desenvolvimento, políticas públicas e sistemas de valores nos estão a criar, ainda sabe melhor estar no Meu Alentejo. Lembro-me até da moda da terra que diz "Quando um homem está sozinho no seu monte, bem no meio da natureza, escutando a água a entoar na fonte, é dono de uma riqueza". Felizmente não estou sozinho, o aconchego ainda é maior.

Há pouco dei uma volta pelo monte para desentorpecer as pernas que a lida hoje não é pesada e sempre vou olhando para as oliveiras, árvores que considero das mais bonitas, especialmente aquelas com muitos séculos e que já levam um tronco que dois homens não abraçam. Admiro a sua generosidade.

Começam por dar as azeitonas que se comem em três variantes, pisadas, retalhadas e de conserva, qual delas a mais saborosa. Depois dão o azeite, a alma do comer bom, e como tem alma o azeite do Meu Alentejo.

Para além da azeitona e do azeite, a oliveira ainda é a mais calorosa das árvores, sempre a aquecer-nos. Aquece-nos quando maldosamente a varejamos para nos dar a azeitona, aquece-nos quando lhes tiramos os pés de burro e limpamos ramos e troncos para assegurar a sua renovação e ainda nos aquece quando arde no lume de chão ou na salamandra nos dias e noites longas do Inverno que amanhã chega.

Finalmente, esta generosa capacidade de dar vive numa escala incomensurável para nós, dura séculos.

São tão bonitas e generosas as oliveiras.

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