Chegou o frio ao Alentejo e anuncia-se a chuva lá mais para o fim da tarde. Está um tempo cabaneiro que convida estar na cabana ao lume. Eu aceitei o convite, estou de volta destas notas com um olho na chama da salamandra e como sabe bem esta companhia.
Nos tempos crispados e duros em
que todos os dias conhecemos as dificuldades que modelos de desenvolvimento,
políticas públicas e sistemas de valores nos estão a criar, ainda sabe melhor
estar no Meu Alentejo. Lembro-me até da moda da terra que diz "Quando um
homem está sozinho no seu monte, bem no meio da natureza, escutando a água a
entoar na fonte, é dono de uma riqueza". Felizmente não estou sozinho, o
aconchego ainda é maior.
Há pouco dei uma volta pelo monte
para desentorpecer as pernas que a lida hoje não é pesada e sempre vou olhando para
as oliveiras, árvores que considero das mais bonitas, especialmente aquelas com
muitos séculos e que já levam um tronco que dois homens não abraçam. Admiro a
sua generosidade.
Começam por dar as azeitonas que
se comem em três variantes, pisadas, retalhadas e de conserva, qual delas a
mais saborosa. Depois dão o azeite, a alma do comer bom, e como tem alma o
azeite do Meu Alentejo.
Para além da azeitona e do
azeite, a oliveira ainda é a mais calorosa das árvores, sempre a aquecer-nos.
Aquece-nos quando maldosamente a varejamos para nos dar a azeitona, aquece-nos
quando lhes tiramos os pés de burro e limpamos ramos e troncos para assegurar a
sua renovação e ainda nos aquece quando arde no lume de chão ou na salamandra nos
dias e noites longas do Inverno que amanhã chega.
Finalmente, esta generosa
capacidade de dar vive numa escala incomensurável para nós, dura séculos.
São tão bonitas e generosas as
oliveiras.
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