domingo, 7 de dezembro de 2025

FORMAÇÃO, FORMAÇÃO, FORMAÇÃO

 Na passada semana realizou-se em Santarém um encontro com directores de escolas e agrupamentos com a presença do Ministro da Educação, Ciência e Inovação, subordinado ao tema, “Ler os resultados das provas Moda — Implicações para a aprendizagem da leitura”.

Face à preocupação com os resultados dos alunos do 1.º ciclo em Português nas Provas Moda e no Diagnóstico de Fluência Leitora, foi anunciado um plano com dois eixos centrais a desenvolver nos próximos dois anos, a criação de bibliotecas em escolas do 1.º Ciclo e um Programa de Formação de Professores, o Programa de Ensino, Didáctica e Aprendizagem da Leitura.

Umas notas sobre a propósito.

Começando pela criação de bibliotecas escolares e considerando que existem 1487 escolas do 1.º ciclo (46% das escolas - 25% dos alunos – 90000 alunos) parece importante que seja concretizado sendo que em 2026 serão criadas 434.

Como é óbvio a biblioteca é um bem de primeira necessidade numa escola, mas, só por existir, não é suficiente, é necessário que a motivação para a leitura que leva à biblioteca seja trabalhada e que o trabalho dos professores bibliotecários em conjunto com os professores titulares seja apoiado e desenvolvido também no cenário das bibliotecas a criar.

Consideremos agora o Programa de Ensino, Didáctica e Aprendizagem da Leitura que de acordo com o MECI "visa, a nível nacional, actualizar e fortalecer as competências de todos os professores do 1.º ciclo na didáctica da leitura e da escrita, com impacto directo na capacidade leitora e no sucesso dos alunos".

Com algumas décadas de trabalho com colaboração na formação de professores entendo que há sempre lugar à “actualização e fortalecimento” desde que a formação proposta actualize, de facto, as competências profissionais o que nem sempre acontece.

Importa não esquecer que os professores do 1.ºciclo, na sua grande maioria são professores experientes e certamente competentes.

A formação sendo uma dimensão crítica não é mágica e não traz um manual de instruções com o qual se resolvem todos os problemas do complexo processo de ensino e aprendizagem, alguns dos quais, estão para lá da questão da didáctica.

No entanto, se o Ministro sobrevaloriza a questão da formação e assumirmos um alargamento do que se entende por formação existem algumas outras questões que refiro sem esgotar ou hierarquizar.

Em primeiro lugar é crucial a formação de políticas públicas que sejam eficientes e sólidas e avaliadas.

É importante a formação de equipas nas escolas, professores, técnicos, assistentes operacionais suficientes e preparadas. Recordo que há poucos dias se noticiava que 133 turmas do 1.º ciclo estão ainda sem professor titular, mais de 3300 alunos.

É crítica a formação de climas de escola tranquilos e colaborativos e com modelos de governança competentes.

É imprescindível a formação de processos funcionais que eliminem tento quanto possível a burocracia que esmaga os professores e contamina a mais nobre e importante das suas competências, o ensino.

É absolutamente necessária a formação de dispositivos de apoio a alunos e professores que contribuam para minimizar dificuldades de uns e outros.

É importante a formação de …

Na verdade, é sempre uma tentação explicar as dificuldades dos alunos com a competência dos professores. Sem demagogia, sabemos que sim, a competência é uma dimensão crítica, mas não é a única. Pela mesma razão, o bom resultado que muitos alunos atingem não decorre “exclusivamente” da competência do docente.

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