Na passada semana realizou-se em Santarém um encontro com directores de escolas e agrupamentos com a presença do Ministro da Educação, Ciência e Inovação, subordinado ao tema, “Ler os resultados das provas Moda — Implicações para a aprendizagem da leitura”.
Face à preocupação com os resultados dos alunos do 1.º ciclo em Português nas Provas Moda e no Diagnóstico de Fluência Leitora, foi anunciado um plano com dois eixos centrais a desenvolver nos próximos dois anos, a criação de bibliotecas em escolas do 1.º Ciclo e um Programa de Formação de Professores, o Programa de Ensino, Didáctica e Aprendizagem da Leitura.
Umas notas sobre a propósito.
Começando pela criação de
bibliotecas escolares e considerando que existem 1487 escolas do 1.º ciclo (46%
das escolas - 25% dos alunos – 90000 alunos) parece importante que seja concretizado
sendo que em 2026 serão criadas 434.
Como é óbvio a biblioteca é um
bem de primeira necessidade numa escola, mas, só por existir, não é suficiente,
é necessário que a motivação para a leitura que leva à biblioteca seja trabalhada
e que o trabalho dos professores bibliotecários em conjunto com os professores
titulares seja apoiado e desenvolvido também no cenário das bibliotecas a
criar.
Consideremos agora o Programa de
Ensino, Didáctica e Aprendizagem da Leitura que de acordo com o MECI "visa,
a nível nacional, actualizar e fortalecer as competências de todos os
professores do 1.º ciclo na didáctica da leitura e da escrita, com impacto
directo na capacidade leitora e no sucesso dos alunos".
Com algumas décadas de trabalho com
colaboração na formação de professores entendo que há sempre lugar à “actualização
e fortalecimento” desde que a formação proposta actualize, de facto, as
competências profissionais o que nem sempre acontece.
Importa não esquecer que os
professores do 1.ºciclo, na sua grande maioria são professores experientes e
certamente competentes.
A formação sendo uma dimensão
crítica não é mágica e não traz um manual de instruções com o qual se resolvem todos os
problemas do complexo processo de ensino e aprendizagem, alguns dos quais,
estão para lá da questão da didáctica.
No entanto, se o Ministro sobrevaloriza
a questão da formação e assumirmos um alargamento do que se entende por
formação existem algumas outras questões que refiro sem esgotar ou hierarquizar.
Em primeiro lugar é crucial a
formação de políticas públicas que sejam eficientes e sólidas e avaliadas.
É importante a formação de
equipas nas escolas, professores, técnicos, assistentes operacionais
suficientes e preparadas. Recordo que há poucos dias se noticiava que 133
turmas do 1.º ciclo estão ainda sem professor titular, mais de 3300 alunos.
É crítica a formação de climas de
escola tranquilos e colaborativos e com modelos de governança competentes.
É imprescindível a formação de
processos funcionais que eliminem tento quanto possível a burocracia que esmaga
os professores e contamina a mais nobre e importante das suas competências, o
ensino.
É absolutamente necessária a formação
de dispositivos de apoio a alunos e professores que contribuam para minimizar
dificuldades de uns e outros.
É importante a formação de …
Na verdade, é sempre uma tentação
explicar as dificuldades dos alunos com a competência dos professores. Sem
demagogia, sabemos que sim, a competência é uma dimensão crítica, mas não é a
única. Pela mesma razão, o bom resultado que muitos alunos atingem não decorre “exclusivamente”
da competência do docente.
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